sábado, 28 de agosto de 2010

Entrevista com Sérgio Rubim

Sérgio Rubim - Canga
Foto: Diego Wendhausen Passos

Data da entrevista: 29/07/2010

Diego: O PMDB e o PT, agremiações que mobilizaram muitas pessoas no passado, chegaram ao poder político e não conseguiram trazer a tão sonhada moralidade pública e política, aliando-se, inclusive, com velhos adversários para chegar ao topo. Por que, em inúmeras ocasiões, as pessoas buscam chegar ao objetivo principal deixando de lado os bons valores, visando apenas os benefícios?

Canga: É o seguinte: o que eu penso sempre, em geral, é que o poder corrompe, sempre. Nós temos provas disso, pois os partidos que chegaram ao poder democraticamente, depois da ditadura, todos foram uma avalanche de corrupção. Não pode dizer, mais ou menos, a roubalheira é tudo igual. No caso do PMDB, ele se tornou o mais corrupto e fisiológico que existe neste país. O MDB era uma coisa, uma reunião de opositores à ditadura militar. Então, naquele momento se lutava, usava valores de se lutar contra a corrupção. Nós somos os puros, nós somos os bons, e vocês não são, era mais ou menos assim. Aquilo serviu em um determinado momento. Depois, quando vira PMDB e surgem os outros partidos políticos, aí a briga é outra e a sociedade também. Eu acredito até que as pessoas, e tem casos para citar. Pessoas moralmente boas, pessoas honestas, quando entram na política, e que já são raros ingressar, mas quando entram e querem se manter e se preservar como honestos e probos, eles não vingam, são afastados rapidamente. Tem o caso de um vereador em Florianópolis, que é um dos fundadores do PT, foi presidente da Associação dos Professores da UFSC, o APUFSC, e se elegeu vereador, era do PT, eu acredito que foi na época, há muitos anos, e os conflitos enfrentados por ele, dentro da câmara dos vereadores foram tão violentos, seríssimos, que ele teve uma síndrome de pânico, e veio a falecer mais tarde, pelos conflitos enfrentados pelos seus parceiros, as pressões para que aceitasse e se corrompesse, então eu acho que é praticamente impossível. O PT antes, eram os vestais da moralidade, quando lutavam e queriam chegar ao poder. Nenhum partido prestava, o PMDB não prestava, o DEM não prestava, o PFL, nenhum prestava. Eles é quem eram e queriam a honestidade, e está aí, chegaram ao poder, e estão fazendo pior que os outros. Não sei se tem pior, porque roubar é tudo a mesma coisa.

Diego: Nos últimos 10 anos, principalmente, as agremiações partidárias fizeram alianças até incoerentes no ponto de vista ideológico, visando apenas espaço político, confundindo o eleitorado, que perdeu a identidade com os grupos que simpatizavam. Por que aconteceram essas mudanças, e de que forma o sistema eleitoral precisa mudar para evitar essas coligações sem objetivo político-partidário?

Canga: A questão da reforma política, no Brasil, é um velho problema e todo mundo diz que vai fazer. O Lula diz que vai se empenhar, agora, para fazer a reforma, e ninguém faz porque não interessa isso. Os partidos são fisiológicos. É uma vergonha a legislação permitir, por exemplo, as pessoas trocarem de partido como quem troca de camiseta, de cueca, a qualquer hora. Veja hoje, por exemplo, o PT, aliado com a Roseana Sarney, com pessoas desse tipo, com os Berger em Santa Catarina, quer dizer, os partidos não têm mais ideologia. Eu acho bom, se não tiver ideologia, ao menos que tenham princípios e a um programa, mas nem isso eles seguem. Além de as pessoas poderem trocar de partido, migrando de um para outro, completamente distinto ideologicamente, dos seus princípios, e também, podendo coligar o da direita com o do centro, o da esquerda com o da direita, virou negócio. A política no Brasil é um negócio.

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