quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Mercedes anuncia Michael Schumacher

Piloto alemão volta às origens

Depois de muitas especulações, a Mercedes anunciou na manhã de hoje a contratação do ex-piloto da Benetton e da Ferrari, Machael Schumacher.

O heptacampeão trabalhará novamente com Ross Brawn, com quem esteve ao lado em todas as conquistas na Fórmula 1. Com dois títulos pela Benetton, mais cinco pela Ferrari, tornou-se o maior vencedor da categoria.

Schumacher fala que essa oportunidade é para fechar um ciclo, já que a montadora alemã apoiou o início da carreira do campeão, que não disputa um Grande Prêmio desde 2006, quando despediu-se das pistas.

Com 41 anos, ele ainda quer mostrar o mesmo talento que o levou à consagração defendendo as cores da Benetton e de Maranello. Nico Rosberg, também ingresante na equipe das três pontas, disse estar entusiasmado com a presença do compatriota no time. Para Nico, será fantástico correr ao lado de Schumacher, e acredita que o ex-ferrarista continuará rendendo como antes.

Depois de três tentativas, Norbert Haug, diretor-esportivo da Mercedes, disse que finalmente conseguiu ter Michael Schumacher na Fórmula 1. A primeira delas foi em 1995, quando estava em seu último ano de contrato com a Benetton, depois, em 1998, e em 2005, quando a montadora estava ao lado da McLaren. E, a última, neste ano, quando adquiriu a Brawn, o ex-campeão decidiu deixar o cargo de consultor na Ferrari e partir para o novo desafio.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Mercedes anuncia parceria com Petronas

Petrolífera malaia troca BMW por Mercedes


Ilustração do carro de 2010 da Mercedes
Fonte: IG Grande Prêmio

Presente na Fórmula 1 desde 1995, quando patrocinou a regressante Sauber, a Petronas ficou ao lado da escuderia suíça até 2005, quando a BMW assumiu o controle e manteve os malaios como parceiros.

Com a saída da montadora bávara, a Williams surgiu como a principal interessada em fechar acordo de patrocónio, mas quem se deu melhor foi a Mercedes, que anunciou uma parceria de longo prazo.

Ross Brawn, chefe da equipe, disse que o acordo é fantástico e ajudará a atingir os principais objetivos de ambas as empresas.

Com 14 patrocínios fechados para o próximo ano, a equipe ainda não anunciou o companheiro do alemão Nico Rosberg. Nick Heidfeld e Michael Schumacher são os principais candidatos a vaga. Muitos rumores apontam o ex-campeão do mundo como principal nome, também pelo fato de ter chego a Benetton, em 1991, respaldado pela marca das três pontas.

Leia mais:
Grande Prêmio: Petronas surpreende e assina patrocínio com Mercedes para 2010
Terra Esportes: Petronas vai patrocinar a Mercedes
Lancenet: Petronas vai patrocinar a Mercedes

sábado, 19 de dezembro de 2009

A árvore polêmica

Um dos assuntos que vem rendendo pauta nos últimos dias é a polêmica árvore milionária, instalada na Beira Mar, e que vem gerando muita discussão entre os florianopolitanos.

O custo dela é o primeiro ponto a ser debatido, R$ 3,7 milhões ao erário público, além das disputas judiciais em torno do pagamento. O Ministério Público suspendeu na última semana a prefeitura de pagar as parcelas. O secretário de turismo, senhor Mário Cavalazzi, tenta explicar o inexplicável. Realmente, é absurdo o preço que o contribuinte está desenbolsando.

Outro ponto que gerou controvérsias foi em relação ao tamanho da milionária. As propagandas diziam que ela tinha 60 metros, mas um estudo topográfico apontou 43, 17 menos. Pelo jeito, a raiz é muito extensa. Se a altura for o problema, basta dar uma boa quantidade de arroz e feijão, junto com fermento em pó para ver se ela cresce os 17 metros que estão faltando

Além disso, as disputas judiciais entre situacionistas e oposicionistas pega fogo. O grupo contrário derruba liminares, enquanto os governistas vão através de recursos buscando manter o pagamento, bem pomposo aos contribuintes.

Mesmo o alto valor não foi suficiente para manter a mais rica acesa. Deu até apagão na mais cara da cidade, por não honrar o pagamento a empresa Palco Sul.

Nossos governantes gostam de brincar com a paciência do povo. Ano que vem temos eleições, então qualquer tropeço agora pode ser crucial para as pretensões eleitorais.

A controversa árvore instalada na Beira-Mar
Foto: Diego Wendhausen Passos

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

De quem é a responsabilidade?

O Coritiba, em razão da violência protagonizada no jogo contra o Fluminense, que valia uma vaga na Série A, perdeu o mando de 30 jogos no Estádio Couto Pereira. A briga foi generalizada, inúmeras pessoas ficaram feridas, outras dezenas foram parar na delegacia. Ao término da partida que determinou o rebaixamento da equipe paranaense, em pleno ano do centenário, foi muito para o torcedor. Mas alguns novamente prejudicaram a maioria, ao invadir o campo e torná-lo uma verdadeira praça de guerra. Os policiais tiveram muitas dificuldade para conter os furiosos brigões, e alguns ficaram feridos.

Novamente nos perguntamos de quem é a responsabilidade? Do clube, por não conter a fúria dos agressores? Das torcidas organizadas, com a imagem negativa junto à opinião pública? De algumas pessoas que vão aos estádios para arrumar confusão? Ou da justiça, que não pune os infratores, ou oferece meios para livrar de punições mais rigorosas?

O clube foi certamente a principal vítima, além dos inocentes e daqueles que saíram feridos no conflito. Teve prejuízo calculado em meio milhão de reais, algumas pessoas, que nem foram ao estádio, sofreram por causa da ação de alguns revoltosos sem causa. As torcidas organizadas passam pelos dois lados da moeda. Da mesma forma que criam músicas e refrões criativos, que incentivam a equipe dentro de campo, promovem conflitos com desafetos através de alianças com grupos de outros lugares do país. Dentro das uniformizadas têm muitos cidadãos de bem, trabalhadores, que vão ao estádio torcer pelo time do coração, buscando oferecer algum tipo de apoio, sem pensar na violência, tratando o esporte como alegria, diversão. Por outro lado, esses conjuntos atraem muitas pessoas mal intencionadas, que a utilizam para promover arruaças e provocar outras torcidas, intimidando, ameaçando e roubando faixas e bandeiras de times rivais.

Além disso, entra a ineficiente e mal elaborada justiça brasileira, que não pune de forma concreta os agressores, dando o ar de impunidade para aqueles que promovem a violência. Com os avanços nas transmissões de televisão, as câmeras conseguem captar os infratores, e muitos saem impunes.

Por fim, a situação só mudará quando houverem atitudes drásticas contra atos de selvageria, proibindo também os culpados de entrarem nos estádios, apresentando-se na polícia, ou prestando serviços comunitários, durante a realização da partida.

Renault fecha parceria com consórcio Genii

Escuderia francesa confirma novo parceiro e fornecimento de motores para a Red Bull

O grupo gerenciado por Geraldo Lopez, o consórcio Genii, comprou parcela da montadora gaulesa e contribuirá na participação da Renault no próximo ano.

Bernard Rey, chefe da equipe, disse estar satisfeito e acredita a parceria trará uma nova dinâmica para os franceses.

No entando, Robert Kubica, único piloto confirmado pela Renault, pode sair antes mesmo de assumir um dos lugares no cockpit, pois assinou o contrato antes do fechamento da parceria.

Leia mais:
Grande Prêmio: Renault fica na F1 e vende parte de ações, mas fala em parceria com Genii
Grande Prêmio: Parceria entre Genii e Renault pode provocar saída de Kubica do time

Lotus confirma pilotos para 2010

Trulli e Kovalainen assinaram com a reestreante

A Lotus confirmou na última segunda-feira os dois pilotos para o próximo ano. Jarno Trulli, depois de cinco temporadas na Toyota, e Heikki Kovalainen, dois anos na McLaren, foram confirmados.

Trulli estava sendo sondado desde o mês passado, pelo fato da equipe estar a procura de um piloto experiente, enquanto Kovalainen teve dificuldades na escuderia de Woking, sem espaço na disputa com Hamilton.

domingo, 13 de dezembro de 2009

Mudanças no sistema de pontuação

Os 10 primeiros colocados passarão a pontuar

A Federação Internacional de Automobilismo confirmou na última sexta, mais uma mudança no sistema de pontuação na Fórmula 1. Vigente desde 2003, o atual sistema concede pontos aos 8 melhores nas corridas. A partir da próxima temporada, os 10 primeiros pontuarão, também em virtude do aumento de equipes no grid.

Como funcionará o novo sistema:

1º: 25 pontos
2º: 20 pontos
3º: 15 pontos
4º: 10 pontos
5º: 8 pontos
6º: 6 pontos
7º: 5 pontos
8º: 3 pontos
9º: 2 pontos
10º: 1 ponto

Virgin/Manor confirma Lucas Di Grassi

Brasileiro correrá ao lado do alemão Timo Glock

Depois de muita espera sem retorno da Renault, o brasileiro Lucas Di Grassi assinou com a novata Virgin/Manor para o próximo ano.

Vice-campeão da GP2 em 2008, foi piloto de testes do time gaulês nos dois últimos anos.

Perfil: Amilton Alexandre

Um olhar sobre o Mosquito, um dos envolvidos na Novembrada e atual titular do Blog Tijoladas

Amilton Alexandre (Mosquito)
Foto: Diego Wendhausen Passos


Um personagem marcado pela polêmica

Amilton Alexandre, o Mosquito, é certamente o mais crontrovertido e polêmico dentre os sete estudantes presos e enquadrados na Lei de Segurança Nacional, nas manifestações de 30 de novembro de 1979. Nascido em Florianópolis, dia 31 de julho de 1959, é conhecido por falar o que pensa e pela defesa dos ideais socialistas.

Desde adolescente, Mosquito participa das atividades políticas desde 1977, quando estudava no Instituto Estadual de Educação. Em 1979, participou, em Salvador, da refundação da União Nacional dos Estudantes, entidade que ele atualmente critica por apoiar incondicionalmente o governo Lula, no qual obtém privilégios. Preso na novembrada, era ligado ao grupo de Adolfo Luis Dias, que presidia o Diretório Central dos Estudantes. Formou-se em 1980, pelo curso de Administração.

Na década de 1980, foi proprietário do Bar Havana, um dos locais mais frequentados na cidade, principalmente no carnaval. O estabelecimento durou até o início dos anos de 1990. Mesmo sendo torcedor do Figueirense, em 1999, trabalhou quatro meses pelo Avaí, quando ofereceu ao então dirigente Flávio Félix, um projeto de marketing para o clube da Ressacada, após ter sido desaprovado pelo cartola Paulo Prisco Paraíso, da Figueirense Participações. Mosquito frisa que por conhecer o ex-presidente avaiano, levou o plano, por considerá-lo interessante, também pelas transformações no futebol, que estavam começando a se transformar em clube-empresa.

Entre 2004 e 2007, trabalhou pela empresa Andrade & Canelas, prestadora de serviços da Eletrosul, ficou durante dois anos e meio, demitido após encontrar irregularidades envolvendo o grupo paulista.

Atualmente, é o titular do blog Tijoladas, financiado através de vendas de camisas, anúncios e ajuda financeira de amigos.

Na vida partidária, começou no MDB, pelo grupo comunista. No Partido Comunista Brasileiro (PCB), no qual foi um dos fundadores, em Florianópolis, ficou de 1985 até 1991, quando ficou 10 anos sem partido. Mesmo contribuindo para a fundação do Partido dos Trabalhadores, passou a integrar a sigla apenas em 2001.

Blogueiro Mosquito: muitos admiradores e desafetos

Desempregado, Mosquito criou em 2008, véspera do primeiro turno das eleições municipais, um dos sites mais controversos, denunciando irregularidades e alguns bastidores do poder político.

O blogueiro conta que pediu apoio devido às dificuldades financeiras que atravessa. Na página pessoal, ele fala do cotidiano político, abordando também assuntos esportivos, culturais e divulgação de eventos.

Mas o veículo é motivo de muita discussão, entre muitos profissionais, pelo vocabulário utilizado. Com uma linguagem coloquial e sem “papas na língua”, Mosquito coloca sua revolta em torno das mudanças ideológicas de muitos ex-colegas que lutaram pela liberdade democrática. Mesmo conquistando muitos amigos e admiradores, fez vários desafetos, como a senadora Ideli Salvatti, o ex-prefeito Edison Andrino, Gilmar Knaesel. Ideli e Andrino tentaram inclusive tirar a página do ar, devido às fortes críticas que sofreram.

Os números do blog também são significantes: desde setembro de 2008, foram 30 processos contra o titular, 27 em Florianópolis e 3 na Palhoça, e um número de visitantes cada vez mais expressivo.

sábado, 12 de dezembro de 2009

Entrevista com Ana Carla Pimenta

A jornalista fala do Trabalho de Conclusão de Curso sobre o tema e do interesse em transformar o projeto em documentário

Ana Carla Pimenta
Foto: Diego Wendhausen Passos

Data da entrevista: 14/10/2009

Diego: Como surgiu a ideia de fazer o seu Trabalho de Conclusão de Curso sobre a Novembrada?

Ana Carla: Eu precisava definir um tema para produzir o trabalho e tinha interesse por história. Defini que seria sobre a história de Florianópolis, achei que poderia ser rico. Eu vivo nessa cidade há 13 anos e acreditei que através dessa pesquisa eu poderia conhecer mais um pouco da cidade, da história da cidade. E, durante alguns meses, o recorte foi feito sobre episódios que eu pudesse estar trazendo à tona, estar revelando no documentário. E aí surgiu a Novembrada, que agora, em 2009, está fazendo 30 anos, e seria uma grande oportunidade de estar resgatando um pouco desse episódio, dessa história em vídeo. Já que é o primeiro trabalho documentário em vídeo. Nós temos o do cineasta Eduardo Paredes, um curta-metragem, baseado na história, mas é uma ficção, e, com isso, observei que seria uma grande oportunidade.

Diego: Foi fácil encontrar, ou tinha poucos materiais, sobre o tema?

Ana Carla: Isso foi outra expectativa que me surpreendeu. Sempre que eu falava desse projeto, as pessoas diziam que teria muito material. Eu demorei um ano e meio para realizar as pesquisas, desenvolvi o projeto durante um ano e meio e foram poucos os materiais. Encontrei quatro projetos de TCC (Trabalho de Conclusão de Curso) da UFSC e um na UDESC, e três livros publicados sobre o tema. Então, foi bem pouco material, acreditei que tivesse bem mais história, já que tantas pessoas falam desse episódio, encontram-se, identificam-se com esse episódio da cidade.

Diego: E com os envolvidos na prisão, no caso, Marize, Lelê, Mosquito, Geraldo, Newton, Lígia e Adolfo, você conseguiu contato com todos eles?

Ana Carla: Dos sete estudantes presos, o Adolfo, que era na época o presidente do DCE (Diretório Central dos Estudantes), da UFSC, faleceu em 1999. Então, eu fiz contato com a família dele, fiz contato com a Rosângela e com todos eles, mas eu gravei depoimentos da Rosângela, da Marize, do Amilton Alexandre, que é o Mosquito, e do Geraldo. A Lígia eu não consegui gravar porque ela estava no exterior. Gravei com a família do Adolfo. E o Newton, ele não quis registrar o depoimento. Com exceção dele, todos foram muito receptivos à ideia de gravar depoimentos.

Diego: Você conseguiu muitas fontes através dos jornais da época?

Ana Carla: Eu tive a sorte e a felicidade de contar com a generosidade das pessoas, que me doaram muito dos seus acervos pessoais. Consegui muitos materiais de jornais e de revistas nacionais, como as revistas Manchete, Veja, Isto É, da época, e do jornal Folha de São Paulo. Então, temos muitos veículos, que aqui na cidade, nós não temos. Nós temos acervos aqui na cidade mais de jornais da cidade, da imprensa local, da imprensa regional. Mas esse material nacional enriqueceu ainda mais a pesquisa, foi bem interessante, ver o olhar local, mas, acima de tudo, o olhar de fora sobre o episódio. Também, eu acredito que enriqueceu bastante.

Diego: Quais são os seus projetos futuros, com relação ao trabalho?

Ana Carla: Eu gravei 31 entrevistas. Dessas, utilizei 15 para fazer a versão compacta para o meu Trabalho de Conclusão de Curso, em uma versão de 20 minutos. Eu agora estou atrás de apoio, para dar continuidade a esse projeto. Então, a ideia é fazer um documentário maior, em torno de 55 minutos a uma hora, e disponibilizar em DVD, para estar colocando diversos arquivos, de jornais, fotos da época, para concentrar essa pesquisa. Eu recebi muito material, e são materiais que você não encontra nas bibliotecas públicas da cidade. Então, gostaria que esse material fosse disponibilizado porque não é meu, ele pertence à história da cidade e disponibilizá-lo.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Entrevista com Celso Martins

Celso faz uma análise do período de repressão, Operação Barriga-Verde e Novembrada, comparando aquele período com a atualidade

Celso Martins
Foto: Diego Wendhausen Passos

Data da entrevista: 27/11/2009

Diego: Como foi feita a cobertura pela mídia na época da Novembrada, no caso o Jornal O Estado, onde você trabalhava?

Celso: O Jornal, ele é dividido em editorias: esporte, economia, polícia, geral, cidade, política, e, nesse dia, da chegada do Figueiredo, o da Novembrada, eu sei que alguns repórteres foram destacados de outros setores para cobrir a chegada do presidente. E no protesto no dia 4 de dezembro (pedindo a libertação dos estudantes), foi mobilizado mais repórteres, e foi assim trabalhei na Novembrada. Eu cobria polícia, aí fui escalado para fazer a Novembrada, permanecendo todo o tempo. Eu me lembro que na época tinha o Nei Vidal, o Jurandir Pires de Camargo, o Sérgio Rubim, conhecido como Canga, o Flávio de Carvalho, se não me engano, eu estava lá, os fotógrafos todos, o Sérgio Rosário, o Rivaldo Souza, o Orestes Araújo, o Lourival Bento, enfim, todo o pessoal, sobretudo para o ato público do dia 4 de dezembro. Foi toda a equipe mobilizada, o jornal fez uma cobertura ampla, cobriu tudo. O evento foi chamado na capa, com destaque, com foto, quase sempre com manchete, ou sob manchete, com duas ou três páginas, diariamente, naqueles dias posteriores. É bom destacar o seguinte, a censura prévia, com a presença de censores militares, nas redações, ela termina em 1976. Dali em diante, a censura continuou, mas já não era mais prévia, se você divulgasse alguma coisa que não agradasse a ditadura, tinham consequências, represálias, mas já não havia mais a figura do censor, dentro da redação. Isso liberou um pouco, nós repórteres passamos a ser mais ousados. Em função dessa necessidade, dessa contingência, e o fato do Jornal O Estado ter passado a utilizar o off-set pouco tempo antes, transferindo as instalações no Saco Grande, modernizado as estruturas, também no campo editorial, o jornal se tornou um diferencial, pela equipe de repórteres que foi contratada. Boa parte deles com experiência, e alguns, iniciando. Fazíamos uma cobertura, não para criticar o governo, cobríamos o dia-a-dia como ele deve ser, ouvindo todos os lados, fornecendo e reportando para o leitor as informações, ajudando a formar uma opinião a respeito da realidade, uma posição e uma visão a respeito do cotidiano. Então, como é que se faz isso? Com o espectro amplo dos atores, das informações daquele caso. É o que nós fazíamos. Então, por exemplo, naquele período, o movimento estudantil estava em ascenção, União Catarinense dos Estudantes e a União Nacional dos Estadantes estavam se reorganizando, assembleias, movimentos, além de uma série de atividades, e o Jornal O Estado tinha um setorista na Universidade Federal, cobrindo as movimentações estudantis, que era o Elói Gallotti Peixoto, eu tinha até esquecido de citá-lo. Também havia, na época, a campanha pela anistia, a denúncia da situação dos presos políticos, a greve de fome que eles fizeram em 1977, e tudo isso, a tínhamos que cobrir. Então, esse era o objeto de cobertura do Jornal O Estado, e isso tornou o diferente, agradou o leitor, fez sucesso com esse tipo de abordagem, porque no meio daquela apatia, moteamento da informação e da cobertura, o Jornal O Estado se apresentou não como um órgão de esquerda, mas como um veículo que comunicava, informava, e cobria assuntos que normalmente não tinham cobertura. E foi essa equipe, com disposição, que cobrimos os acontecimentos. Já estávamos familiarizados com o movimento estudantil, com as situações dos anos de 1970. Quando veio a Novembrada, continuamos fazendo o mesmo que antes, com a diferença apenas na dimensão do aontecimento, que durou algum tempo, o jornal reforçou a cobertura, mas o veículo já fazia isso.

Diego: Recentemente, você escreveu um livro falando sobre a Operação Barriga-Verde, as torturas. Você participou também da cobertura da Novembrada, e, atualmente, temos acompanhado o caso de um dos sete presos, que criou um blog e tem sofrido censuras, e várias denúncias por crimes contra a honra, indenização por danos morais, no caso, o Mosquito, que tem sido ferrenhamente contra algumas figuras que lutaram contra a ditadura e hoje estão do outro lado. Como você tem visto esta questão de tortura daquele tempo para o atual, e questão de liberdade de expressão?

Celso: Eu só quero esclarecer uma coisa, que quem se mete a fazer blog, deveria primeiro se espelhar no que fazem os jornalistas, porque não é comum, no jornalismo, fazermos acusações sem provas, gratuitas, dirigindo-se às pessoas com palavrões, essa não é praxe, não é o dia-a-dia. Então, quem está fazendo blog, não precisa ser jornalista, mas eu acho que deve ter as precauções, os cuidados que o jornalista tem. Por isso é importante o diploma, pois dá exatamente essa formação. Antigamente não tinha curso universitário em Florianópolis, tínhamos que aprender na redação, e o que a gente aprendia, é hoje, aliado às questões éticas também, o que se tem nos cursos de jornalismo, de comunicação. E é sobretudo a questão de ouvir as partes, de se fundamentar bem. Quer chamar alguém de estelionatário, tem que ter provas para dizer que ele é. Você é juiz para julgar? Não, mas se há uma sentença dizendo que tal pessoa foi enquadrada no artigo 171, aí você pode chamá-lo de estelionatário, já que houve uma sentença, com base no que consta no processo, e chegou a conclusão de que não houve estelionato, ou houve peculato, ou houve uma alversação, enfim. Na medida em que há, e podemos até nos dar ao luxo disso, no momento nem fazemos isso. Até pode chamar a pessoa de estelionatária, mas creio que a divulgação de uma sentença judicial, dizendo que foi condenada por ter ferido os dispositivos do artigo tal, é suficiente para o leitor saber que ali houve um. Isso já entra no sensacionalismo, se pegar e utilizar essas expressões mais pesadas, e até pejorativas, que desrespeitam. Em relação à tortura, em Santa Catarina, não havia tradição. E a militância de esquerda sabia disso, nunca tinha passado por uma aprovação desse tipo. Na Operação Barriga-Verde, em 1975, as pessoas foram presas, levadas para Curitiba, e barbaramente torturadas. Todos esses tipos de torturas que estão descritos, foram alvos, inclusive um fato novo, uma prática nova, pouco conhecida, que era o empalamento, na qual os torturadores pegavam um cabo de vassoura e enfiavam no ânus dos presos. Não se tem relato disso em outros lugares, ou pelo menos, não com frequência, que tenha sido comum a prática corriqueira, foi na Operação Barriga-Verde. Fora essa tortura em Curitiba, também na sede da Polícia Federal, em Florianópolis, alguns deles sofreram torturas. O Lécio, o Marcos e o Teodoro foram torturados. O Mota e o Cirineu foram torturados na Polícia Federal. Quando chegaram na Polícia Militar já não houve isso, pelo contrário, o Márcio Cardoso Filho, até em uma carta que ele tornou pública, diz, que ao sair do exército, na Polícia Federal, e entrou na Polícia Militar, era como se estivesse saído do inferno e entrado no céu, por que os militares não tinham a tradição de torturar presos políticos. A própria tortura em preso comum, é uma prática dos anos de 1970, porque antes não tinha essa prática para se obter confissão. Não quer dizer que alguns presos comuns não apanhassem antes disso, não ficassem em condições degradantes, livres de humilhações, o objetivo não era arrancar informação, o sentido anterior era maltratar porque era bandido. Nos anos de 1970, a tortura passa a ser empregada para obtenção de informações, inspirada na prática consagrada em alguns lugares, com relação a prisioneiros políticos. Na Novembrada, esse episódio da Operação Barriga-Verde, pela brutalidade das torturas, ficou marcado na memória de todo mundo, tanto é que no episódio da 1979, dos sete estudantes presos, no primeiro momento, cinco foram efetivamente presos. A Ligia e o Adolfo fugiram para o Vale do Itajaí, e, depois, para uma fazenda em Lages, por que o tempo inteiro eles estavam em contato com as pessoas em Florianópolis. Qual é a informação que eles queriam saber? Se os cinco colegas estavam sendo torturados. Na medida em que ficou configurado a ausência da prática de tortura contra aqueles estudantes, a Ligia e o Adolfo negociaram para se apresentar. Quem os acompanhou foi o então presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, o doutor Sady Lima. Na noite anterior, eles deram uma entrevista coletiva, na Assembleia. Eu fiz a matéria, onde eles anunciaram que na manhã seguinte estariam se apresentando, já que não estava havendo a prática de tortura, e, de fato, foi o que aconteceu. O Jornal O Estado daquele dia, não lembro a data, mostrou a foto dos ambos, dizendo que iriam apresentar-se à Polícia Federal. Eu lembro que essa matéria inclusive ficou um espaço na capa, e na página correspondente, para até eu voltar da Assembleia, no gabinete do deputado Murilo Canto, e fazer a matéria. Eu lembro até que os correspondentes de jornais de fora, tentaram negociar conosco para não publicar a matéria no outro dia, adiando a divulgação, para que todos publicassem juntos. Esse contato foi feito com o Marcílio Medeiros e comigo. Nós descartamos de pronto, e colocamos no outro dia, a matéria. Exatamente por que no jornalismo tem essa agilidade, se tem a informação que no dia seguinte os dois estudantes estão sendo procurados e iriam se apresentar, para que esperar para dar dois dias depois? Então, os outros jornais que fossem participar da cobertura e enviar as matérias.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Entrevista com Valter Severino

Valter lembra o trabalho que realizou pela equipe segurança do governo

Valter José Severino
Foto: Diego Wendhausen Passos

Data da entrevista: 18/05/2009

Diego: Como é que foi aquele dia para vocês policiais?

Valter: Foi um dia de muito agito, muito trabalho, com a vinda do presidente, estávamos na guarda de honra do Palácio do Governo (hoje Museu Cruz e Souza) quando surgiu todo aquele conflito. Foram atiradas várias pedras no palácio, inclusive na minha bota, foi bem complicado.

Diego: E quando o presidente Figueiredo foi xingado, no esquema de segurança, houve dificuldade em conter a irritação dos estudantes, diante de todo o cenário que se ocorreu?

Valter: Foi muito dificultoso para a polícia, para a segurança, o povo estava muito revoltado contra o presidente. Houve muita dificuldade para conter a população.

Diego: E a revolta do presidente no momento em que ele foi xingado e desceu, para partir para a briga com os manifestantes? Como é que foi, foi complicado para vocês? A reação foi de espanto?

Valter: Aconteceu uma coisa muito estranha, nunca tinha existido isso em nosso estado. A população em uma revolta muito grande contra o presidente, e ele saindo no meio da multidão, no meio do povo e aquela confusão toda, foi complicado.

Diego: E você viu algumas brigas ou não? Você ficou ali no palácio durante a confusão?

Valter: Durante o conflito eu estava na guarda de honra do palácio e não saí para o meio da multidão, mas foi bem complicado.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Entrevista com Walter Souza

Walter Souza fala da cobertura que fez pela RBS TV, onde atuava como repórter


Walter Souza
Foto: Diego Wendhausen Passos

Data da entrevista: 25/11/2009

Diego: Como foi a cobertura da mídia naquele dia dos protestos?

Walter: Eu posso informar o trabalho que nós realizamos pela RBS TV. Nós recebemos no dia 29, a orientação do chefe da equipe, na época, o Ariel Bottaro Filho, que quatro equipes trabalhariam no dia seguinte, a primeira equipe, com a Adriana, cobriria a chegada do presidente no aeroporto Hercílio Luz, eu cobriria a visita ao palácio Cruz e Souza, a visita central, que acabou gerando todo o problema, uma terceira equipe iria à Palhoça, e, uma quarta equipe, faria um trabalho que eu não me recordo agora, e, eu voltaria para fazer um trabalho à tarde, já com o presidente inaugurando, uma coisa que a imprensa infelizmente não divulgou na época, o primeiro biodigestor do sul do Brasil, que aconteceu aqui, hoje Epagri, naquela oportunidade, a Acaresc, foi isso.

Diego: Na época, mesmo com a abertura política que estava começando, o fim do bipartidarismo, a abertura política, já começava a se ensaiar o retorno da democracia, mas mesmo assim, ainda tinha muita censura. E a mídia, foi proibida, vocês foram proibidos de divulgar algum fato, de falar alguma coisa sobre o assunto?

Walter: Eu só queria retornar um pouquinho, e já entro neste assunto. O primeiro protesto que aconteceu, foi na passagem do presidente, da comitiva do presidente, e o governador Jorge Bornhausen, em um Galaxy, pela Costeira do Pirajubaé, na Avenida Jorge Lacerda. Ali, senhoras, de ponta a ponta, com panela na mão e crianças protestando com relação a dificuldade que havia de você comprar comida, naquela época. Foi o primeiro protesto contra o Figueiredo, claro que não gostou, não se agradou disso, e comentou isso com o governador. Depois, quando chegou na Praça XV de Novembro, algumas manifestações começaram a aparecer, e aconteceu o famoso gesto, quando colocou dois dedos, mas ele nunca os juntou, quis dizer o seguinte que o público que o vaiava era um público pequeno, e de fato era, eu estava presente, em relação à mão espalmada, dizia que era o público grande, que o aplaudia. Só que o trabalho dos estudantes conseguiu contagiar e contagiar, e no fim, isso acabou gerando um protesto que exigiu da Polícia Militar um controle maior, e aí, começaram as xingações, abaixo Figueiredo, o povo não tem medo, isso era uma das frases, refrões, que até hoje são utilizados também, mas ligados a um protesto com relação à alimentação, a própria posição do governo militar, mas a gente tem que registrar que o começo da abertura foi no governo Figueiredo, com o próprio reconhecimento do Partido Comunista Brasileiro, aí, até que uma frase da época, que dizia, legaliza o partido, pega uma Kombi e bota o partido dentro, que não dava mais que isso. Aí aconteceu o seguinte, o pessoal começou a xingar, xingou a mãe do presidente, e aí ele desceu, contrariando o posicionamento da segurança dele, contrariando o posicionamento do governador Jorge Konder Bornhausen, desceu. E eu sempre disse que nós devemos ter capacidade de fazer aquilo que nos propomos, mas se o fator sorte não andar conosco, isso pode tolher o trabalho. E eu tive a sorte, porque ele saiu do Palácio Cruz e Souza, que na época era o palácio administrativo também, saiu pela porta principal, dobrou à direita e começou a descer a Praça XV de Novembro, de repente, ele virou para a esquerda, para ir em relação ao povo, ao encontro deles, e aí, quem estava ali, era eu, fui o único a entrevistá-lo, e perguntei para ele na oportunidade, presidente, você quer falar com o povo? Aí, ele respondeu, quero saber o a minha mãe tem a ver com isso? E o fdp era dito, causando uma ressonância na Praça XV, a minha mãe não tem nada com isso, mas é aquela força de expressão, que é utilizada em um protesto. Aí consegui entrevistá-lo, e ele falou durante uns 30, 50 segundos, no máximo, depois ele desceu, o Galaxy, ficou parado, com as janelas abertas, no comecinho da Felipe Schmidt, esquina com a Praça XV de Novembro, quando aí surgiu o outro problema, com o César Cals, Ministro de Minas, que o pessoal, ao protestar, conseguiu derrubá-lo, e tal. E eu conversei com o presidente, não foi das melhores, a sua vinda aqui? E ele apontou para o governador, não estou gostando disso governador, já não gostei lá no Palácio e não estou gostando disso, foram as palavras do presidente Figueiredo.

Diego: E quais foram as dificuldades dos profissionais da mídia, para cobrir o evento, diante daquelas manifestações todas?

Walter: Começamos a ter esse tolhimento do trabalho, após a chegada, reflexo do panelaço acontecido na Costeira do Pirajubaé. Não existia celular naquela época, mas pelo rádio dos carros, eu sabia que na saída do aeroporto, ao passar pela Costeira, houve um protesto, já estávamos cientes disso, a equipe que estava na Praça XV de Novembro. E aí, o que acontece? O protesto acabou recrudescendo, aumentou, exigiu um comportamento até diferente da Polícia Militar. Agora, esse material, muita gente critica que esse material não foi para o ar. A minha função como repórter, era mandar o material para a redação da RBS. Agora, quem aproveita a matéria nova, tinha gente acima de mim, a direção e tal. Então, esse material não foi aproveitado aquele dia, como não foi aproveitado pela Globo, agora, por que não foi, não é problema meu.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Entrevistas com Sérgio Rubim e Jurandir Camargo

Ambos falam da cobertura que fizeram pelo Jornal O Estado, veículo que trabalhavam


Sérgio Rubim (Canga)
Foto: Diego Wendhausen Passos

Data da entrevista: 27/11/2009


Diego: Como foi a cobertura no dia da Novembrada, para vocês jornalistas, no estado?

Canga: Eu trabalhava no Jornal O Estado, naquela época, como repórter, e três repórteres foram destacados para fazer a cobertura. O Jurandir Pires de Camargo, cobriria da chegada do aeroporto, do presidente Figueiredo, do aeroporto até a Praça XV. Eu fiquei encarregado de cobrir a manifestação na Praça XV, e o Luis Fernando da Silva Pontes, que trabalhou dentro do Palácio. Nesse período, vimos todos os acontecimentos, todas as movimentações dos estudantes, as agressões, e, depois, eles sumiram. Ficou o povo na praça, na rua, até umas quatro da tarde, não tinha polícia, eles tomaram conta do Centro. Não eram os estudantes, era o povo, que tinha descido dos morros, a população, e eu acredito que a questão da Novembrada foi consequência do excesso de propaganda que eles fizeram buscando popularizar da figura do João Figueiredo. Nas duas semanas anteriores à chegada do presidente a Florianópolis, eles fizeram uma propaganda maciça, o João do povo, como civil, tiraram a farda do general. Isso atraiu muita gente. Pela primeira vez na vida eu vi aquele número da pessoas juntas, tinham 15 mil pessoas. Eu nunca tinha visto, e, na hora que começaram os problemas, eles perderam o controle de tudo. Já o Jornal Afinal, é consequência, fizemos na cobertura do Jornal O Estado, chegou lá, tivemos todo o material censurado. Todas as nossas obras, foram praticamente censuradas, fomos todos censurados. Isso criou um problema dentro do jornal, reagimos, protestamos, e, logo em seguida, o governador Jorge Bornhausen colocou um interventor dentro do Jornal O Estado, mas, na verdade, fomos demitidos, já que eles iriam fazer uma reengenharia. Começou com a minha demissão, depois, o Nelson Rolim de Moura, o Jurandir e toda a equipe. E eu, o Jurandir e o Nelson Rolim fundamos o Jornal Afinal, que durou até o fim de 1980. Sofremos processo na Lei de Segurança Nacional, fomos ao Tribunal Militar, em Curitiba. Quando estávamos aguardando o resultado final do julgamento, pelas denúncias que fizemos contra o então governador Jorge Bornhausen, sobre a conta bancária na Suíça, aí para não sermos presos, fomos embora para o Uruguai, onde ficamos três anos, e fomos os últimos jornalistas a serem anistiados no Brasil, anistiados pelo Figueiredo.

Diego: Quais eram as principais dificuldades para vocês publicarem determinados assuntos, como casos de corrupção contra o governo. O governo ficava em cima, havia empastelamento, ainda naquela época, no final da década de 1970 e início dos anos de 1980?

Canga: Na verdade, no Jornal O Estado, tínhamos muitas denúncias, mas não conseguíamos publicar porque o jornal se auto-censurava e vivia da verba do governo, de dinheiro do poder público. Então, não tínhamos como, eles não deixavam. O Jornal O Estado era governista, eles se auto-censuravam, censuravam nosso projeto, então não fazíamos nada. Quando fizemos o Jornal Afinal, em 1980, aí tínhamos, o Inimigo do Rei, em Salvador, na Bahia, tinha o Pasquim, no Rio de Janeiro, o Afinal, em Florianópolis, e o Coojornal, em Porto Alegre, que eram os veículos de oposição. Todos sofríamos processos, perseguição, o Jornal Afinal era proibido de vender em banca, aqui em Santa Catarina. Nenhuma banca vendia o nosso jornal. Não podia ser impresso em nenhuma gráfica, em Santa Catarina, porque o governo do estado tinha um poder muito grande, de financiar essas empresas, de dar serviços para elas, e praticamente fizeram uma coisa velada, que proibiam. Sempre tivemos que imprimir o Afinal, no Rio Grande do Sul ou no Paraná, então, tinha uma censura violenta. Nós denunciávamos.

Diego: Atualmente, nós tivemos o retorno da democracia, isso em 1985, mas ainda temos muitos problemas de censura, inclusive um jornalista esportivo, na grande mídia, a exemplo do Jorge Kajuru, foi perdendo espaço por fazer várias denúncias contra dirigentes esportivos, políticos. Alguns blogs estão sendo censurados, ou até retirados do ar, por fazerem insinuações de denúncias contra o poder público. Como você tem visto a situação atual, em questão de liberdade de imprensa, e de expressão?

Canga: Aí tem duas questões diferentes. Se você trabalha com jornal, para a RBS, pela Folha de São Paulo, você, como repórter, não tem autonomia para escrever o que quiser. Você vai escrever dentro da ideologia da empresa, essa é uma questão. Então, existe uma censura, porque esses órgãos todos, praticamente, têm os seus interesses políticos, econômicos, e, por mais liberais que sejam, tem coisas que eles não publicam, pois não interessa a eles. Aqui, a questão da RBS, por exemplo, eu trabalhei no Diário Catarinense, e tem coisas que são bem vergonhosas. Essa relação incestuosa, de uma empresa privada com o dinheiro público, financiada pelo governo do estado. Então, tem um muita de coisa que eles não publicam. Se eles colocarem alguma coisa, denunciando algum político, é por que eles têm interesse politicamente, em denunciar determinada pessoas, para prejudicá-lo. Agora, isso é uma coisa. O dono do jornal publica o que quiser, no teu jornal. O dono da rádio, coloca o que quiser no rádio. Agora, o repórter que trabalha para o chefe, tem que escrever o que a empresa quiser, senão vai para a rua, e é assim. Esse tipo de censura que é praticado pelo dono do órgão, embora seja uma concessão pública, mas temos inúmeros tipos de censura, que essa é vergonhosa, que está acontecendo no Brasil. É a justiça, através de alguns juízes, atropelando vergonhosamente a constituição brasileira, e censurando blogs. Isso não existe. Para processar um blogueiro que faça uma calúnia, tem como processar, existem leis para isso. Existem canais na justiça para isso. Agora, censurar, cortar a falta de informação, a liberdade de expressão, isso é uma vergonha em um país dito democrático, é uma vergonha. Se comprova muitas vezes, corrupção na justiça, e sabemos que a justiça é um dos sistemas mais corruptos do Brasil, comprova os favorecimentos aos seus apaniguados políticos, são indicados, muitas vezes por políticos, governador, partidos, então, existe isso, que é uma vergonha, o que está acontecendo, com uma certa frequência, aqui no Brasil. Em Santa Catarina, mesmo, tem uma juíza que está censurando blog, tentando restringir a liberdade de expressão de modo que isso é uma vergonha.


Jurandir Camargo
Foto: Diego Wendhausen Passos

Data da entrevista: 25/11/2009

Diego: Naquele tempo, havia censura. Você trabalhava em qual veículo, na época?

Jurandir: Na época da Novembrada, eu era editor do Jornal O Estado. Ele estava em uma fase difícil porque estava demitindo jornalistas que tinham ideologia, que lutavam contra a ditadura. Então, uma série de colegas saíram da redação, e eu fui colocado em uma espécie de geladeira. A editoria internacional, era uma editoria que não tinha vinculação com o mundo local, ela tinha uma relação com o mundo internacional. Tanto na visita do Figueiredo aqui, que desencadeou a Novembrada, eu fui escalado para fazer uma cobertura da chegada do Figueiredo, que tinha uma tropa da Polícia Militar formada, que entraria no começo da Praça XV, passaria em revista a tropa, e entraria no Palácio Cruz e Souza, onde funcionava a sede do governo. Os outros repórteres estavem dentro do Palácio, onde haveria a solenidade e iriam acontecer as coisas. Mas, como eu sou um jornalista com sorte, na história, eu fiquei na rua, e na rua que aconteceu tudo. Então, acompanhei como repórter, todo o conflito ocorrido no dia 30 de novembro, em Floripa, que ficou conhecido como a Novembrada. Eu vi o destempero do Figueiredo, a dois metros dele, dizendo que a mãe dele não estava em jogo, eu vi as brigas que ocorram no calçadão, o César Cals tomou um tapa, de fato ele levou, tanto que caiu, e subiu pela minha perna. Então, eu considero a Novembrada como um marco na redemocratização do país, porque o regime estava no abre ou não abre, e depois do que aconteceu em Florianópolis, o general entrando em uma briga de rua, com pessoas que se manifestavam contra o regime, houve um escancaramento na abertura política. Então, em Florianópolis, isso precisa ser melhor analisado, foi o botão que acabou desencadeando o fim da ditadura.

Diego: Nesses 30 anos, conquistamos, na teoria, a democracia. Pela constituição, temos direito a liberdade de expressão, liberdade de crença, mas o que se tem visto em alguns casos, não é exatamente isso. Um caso sistemático é a censura à blogs. Em todo o país, alguns blogs que escrevem coisas que não agradam aos governantes, muitos deles são processados. Blogueiros têm sido processados, alguns até tiveram que fechar o blog. Exemplos que podemos citar é o jornalista Jorge Kajuru, que perdeu bastante espaço na mídia esportiva, por falar o que pensa.

Jurandir: No Mato Grosso, também. O Supremo Tribunal Federal foi claro, acabou com a Lei de Imprensa, criada na Ditadura Militar. Então, o que acontece com o jornalista que ofenda alguém, ou que crie algum problema para outra pessoa, tem o Código Penal, e também, a Lei Civil, reparação de perdas e danos. Então, eu acho que o tratamento com o blog deve ser a mesma coisa, existem as leis. Se alguém se sentiu ofendido por um jornal, por um blog ou por uma TV, que procure a justiça, que o Código Penal, e a justiça vai avalizar ou não se foi uma ofensa, mas limitar a liberdade de imprensa, por qualquer motivo, é inconstitucional, pois a constituição garante plena liberdade de expressão.

Diego: E nesse período, muitos políticos que lutaram contra a ditadura, hoje estão do lado de alguns deles, no caso, próprio PSDB e o PT, que tiveram uma linha mais à esquerda, hoje são considerados mais à direita, principalmente a ala do PT que chegou ao poder. Como você vê essas mudanças, eles estão se coligando com os antigos remanescentes da ditadura, por necessidade?

Jurandir: Essa questão de direita e esquerda acabou. O importante é saber se a pessoa é democrata ou não, se ela defende as liberdades democráticas ou não. Então, a questão, por exemplo, do PMDB, que foi um partido muito importante na luta contra a ditadura, e hoje, em alguns estados, é uma sigla que macula a sua história. Atualmente é conhecido como um partido de oportunistas, só espera o vencedor de qualquer eleição, para entrar dentro desse barco. Esse negócio de esquerda e direita é muito relativo, eu não acredito mais nessa divisão. Agora, há a divisão de pessoas que defendem a democracia e aquelas que não defendem, e tem muita gente, chamada de esquerda, que é fascista, que não defende a liberdade. Então, é bom a gente ficar de olho em quem defende e em quem não defende a democracia, essa é a divisão.

Material produzido pelo Jornal Afinal sobre a Novembrada
Fonte: Cangablog

A Revolta de Florianópolis

Homenagem a Floriano foi o começo do fim

Surgem as primeiras faixas de protesto

Gritos de "ladrão, ladrão"enfurecem Figueiredo

Após agressão a César Cals o bicho pegou

Jorge e o general na sacada do Palácio

A retratação

Julgamento dos jornalistas na LSN

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Entrevistas com Moacir Pereira e César Valente

Um relato da visão dos jornalistas Moacir Pereira e César Valente sobre a Novembrada

Moacir Pereira
Foto: Diego Wendhausen Passos


Data da entrevista: 19/05/2009

Diego: Moacir Pereira, qual foi o contexto político, a situação política da época?

Moacir: Nós vivíamos, em 1979, o início do processo de abertura, durante o governo do general João Baptista Figueiredo, mas com muitas contestações no próprio interior do regime, para que a abertura não acontecesse, a redemocratização fosse estancada e os militares voltassem a perdurar novamente e ficasse mais autoritário ainda. Dentro do próprio regime, os militares não tinham uma posição de consenso, e a reação do presidente Figueiredo com o episódio aqui na Novembrada, ela foi um marco na história política de Santa Catarina e no Brasil, porque até aquele episódio prevalecia a política populista de comunicação do então ministro Said Farah. O Figueiredo em cada esquina que ele ia numa cidade, ia numa esquina tomar um cafezinho, usava o óculos mais bonito, mais moderno. Enfim, havia toda uma política de tornarem ele uma figura mais popular, não do general ditador da América Latina. E aquela reação inesperada dele aqui acabou resultando na prisão dos estudantes, a população se solidarizou. Cometeram uma série de equívocos, fizeram uma placa para homenagear o Floriano Peixoto, imaginando que Santa Catarina tinha o prazer, honra de ter uma cidade de Floriano, quando na verdade detestamos. Nós temos assim marcas, cicatrizes muito profundas a respeito da Revolução Federalista, do coronel Moreira César, que a mando de Floriano esteve aqui e matou 189 catarinenses, aqui na ilha. Enfim, uma série de medidas tomadas pelo governo federal antipáticas e impopulares acabaram resultando nessa revolta popular, que foi a Novembrada de 1979.


César Valente
Foto: Diego Wendhausen Passos

Data da entrevista: 19/05/2009

Diego: César Valente, qual a sua análise sobre a novembrada?

César: Acho que foi um momento importante naquele período histórico. Eu me lembro que depois de um ano, ao estar andando de táxi, em São Paulo, o motorista, pelo sotaque, percebeu que eu era do sul. “Ah, mas vocês é que são legais. Vocês é que deram uma piaba no Figueiredo”, disse o taxista. Engraçado que isso se espalhou pelo Brasil como uma demonstração de rigor do catarinense, do florianopolitano, diante de um governo que já estava caindo de maduro. Então, foi um acidente, porque era uma coisa que não estava planejada, e aconteceu por acaso, mas teve uma repercussão política importante em nível regional e nacional, e, de fato para cidade acabou sendo um marco. A cidade disse ao governo militar que não queria mais. Não foi uma coisa planejada, mas acabou tendo um reflexo histórico importante.

domingo, 6 de dezembro de 2009

Entrevistas com Nelson Maurílio Coelho Junior e Marco Antônio Mattos

Nelson relata sobre o tema, e Marco Antônio, da experiência como integrante do exército na época

Nelson Coelho Junior
Foto: Diego Wendhausen Passos

Data da entrevista: 19/05/2009

Diego: Nelson, qual é a análise da novembrada aqui em Santa Catarina, Brasil?

Nelson: A Novembrada foi um acontecimento extremamente importante e repercutiu em nível nacional. Representou a decadência do governo militar, a crise no governo, o João Figueiredo, que representava o último general, até então ninguém sabia que ele seria o último, mas a pressão do popular era grande contra o governo militar. Essa crise no Brasil deve ser analisada também em nível global, a crise internacional, por causa da criação da Opep, a pressão contra o estado de Israel, os interesses econômicos dos produtores de petróleo, que haviam criado duas crises, a de 1974 e a de 1979. Os países árabes reduziram a produção de petróleo, isso fez com que ocorresse uma supervalorização do petróleo. Esse aumento no preço do petróleo gerou um aumento nos preços das mercadorias brasileiras. Até então o Brasil ainda era muito dependente da importação de petróleo, diferente de hoje, que já consegue ser quase auto-suficiente na sua produção. Havia também uma revolta porque o povo até então era tratado de uma forma indiferente pelo governo militar, e até de forma repressiva. A população não tinha participação, não havia transparência, não tinha informação de nada do que acontecia, tudo era proibido, nada era permitido. Havia a lei de imprensa, a lei de censura, então, havia uma série contextos. O contexto internacional, de crise, o nacional, também de crise, porque o governo militar pegou muito dinheiro emprestado. Fizeram empréstimos internacionais, com juros altos, o Brasil aumentou a dívida. O governo investiu muito em obras públicas, as denúncias de corrupção pipocavam e começaram a aumentar na crise do governo militar. O presidente João Figueiredo também não tinha muito jogo de cintura, não era um presidente muito simpático. Era turrão, durão, e ficou famoso por suas frases polêmicas, como “prefiro o cheiro do meu cavalo do que o cheiro do povo”, e isso tudo fez com que a população se revoltasse. Com isso, alia-se o desemprego, desabastecimento e a população desesperada. Então, a visita de João Figueiredo foi algo bastante marcante e até o acontecimento da Novembrada porque ele já foi recebido com manifestações no aeroporto, no caminho, no Saco dos Limões, na Costeira, panelaço, já teve tumulto na hora que ele recebeu o diploma de cidadão florianopolitano no Senadinho, e depois vieram manifestantes da Universidade Federal, lutando contra a repressão, manifestando-se contra, xingando o próprio presidente, e ele não tinha jogo de cintura para lidar com isso, com o xingamento das manifestações, e acabou gerando a Novembrada, porque ele desceu, foi para o meio dos manifestantes. Há até uma história que ele fez um gesto obceno, da sacada do Palácio Rosado. Depois ele desmentiu e disse que não, que não foi ofensivo, foi um equívoco, mas que realmente acabou de uma forma lamentável, briga generalizada. Dizem que é lamentável, outros historiadores dizem que é fascinante, que é incrível, a luta do povo, tentando agredir o presidente. Há bastante polêmica sobre esse assunto, mas foi um acontecimento extremamente importante. Florianópolis quase não saía no noticiário nacional, muita gente nem sabia na década de 1970 que Florianópolis existia, e aí, saiu a cidade na lista vermelha do governo militar. Até então pouquíssimos presidentes haviam visitado a cidade, sem escolta, sem aparato militar, então, Florianópolis foi a primeira cidade em que podemos dizer que o povo se rebelou contra a ditadura militar.

Diego: E a placa em homenagem a Floriano Peixoto? A tentativa de tornar o regime militar populista também fracassou.

Nelson: Essa placa de bronze coincidiu, porque a república, proclamada em 1889, e a visita do presidente Figueiredo foi em 1979. Eles quiseram fazer uma homenagem a um presidente militar, com uma placa de bronze que ficaria instalada onde hoje é uma floricultura, na frente da Praça XV de Novembro, e essa placa homenageada o presidente Floriano Peixoto, que era também um marechal. Marechal é um título que normalmente se usa geralmente em épocas de guerra, marechal cinco estrelas, então tentaram relacionar Floriano Peixoto, Deodoro da Fonseca, ao governo militar. Na realidade, uma forma de bajular o governo. Foi uma homenagem que o Jorge Bornhausen e o prefeito da época fizeram para o presidente da época e a população não gostou nada dessa homenagem, principalmente a Floriano, que foi responsável pelo massacre do Anhatomirim, um episódio muito triste na História de Santa Catarina, porque mais uma vez uma ditadura militar causou uma tragédia, ceifando quase a vida de 200 pessoas, na ilha do Anhatomirim. Então a placa foi destruída, eu lembro de cenas que passaram na TV, eu era criança quando aconteceu e cenas em que eles arrancavam a placa a marretadas, a pauladas. Tinha uma senhora, numa cadeira de rodas, e ela ajudou a arrancar a placa, com a marreta, e os repórteres perguntaram por quê, e ela falou que ele foi o responsável pela morte dos antepassados dela, e que ela aceitaria jamais uma homenagem, já teria que aguentar o resto da vida uma homenagem a Floriano no nome da cidade, então seria terrível para essa senhora aguentar ainda uma homenagem com uma placa de bronze.
Marco Antônio Mattos
Foto: Diego Wendhausen Passos

Data da entrevista: 30/10/2009

Diego: Qual foi sua participação no dia da Novembrada?

Marco: Eu era da Força Aérea Brasileira, motorista do Corpo de Bombeiros. Estava no Aeroporto quando o presidente Figueiredo chegou. Nós fomos treinados uma semana antes, para conhecer o avião presidencial, e a determinação era que, se houvesse algum acidente no Aeroporto, o primeiro a ser resgatado deveria ser o presidente. E, durante o dia, ficamos de plantão na Base Aérea, e deu aquela confusão, e a chagada foi bem de emergência, e a nossa função foi de proteger a figura do chefe de estado, que era o presidente.

Diego: E durante a confusão, quais foram as dificuldades, para vocês que estavam trabalhando na segurança do governo?

Marco: Na verdade não queríamos utilizar a violência com ninguém, mas a nossa função, na época, era proteger o presidente da república, acima de tudo. E ele teve uma reação violenta, desceu para discutir com os manifestantes, aí piorou tudo. No meio da multidão estavámos sem controle. Realmente houveram excessos, de ambos os lados, mas, naquele momento, vivíamos na Ditadura Militar, ele foi o último presidente da ditadura, saiu em 1985. Para os militares, foi uma situação de cumprir ordens, tínhamos que fazer. Na época, os manifestantes foram para cima, realmente, para agredir, e não podíamos deixar acontecer. Depois pegaram alguns estudantes, que serviram de culpados pelo governo. Foram punidos, condenados, mas depois o tribunal absolveu.

sábado, 5 de dezembro de 2009

Entrevista com Lígia Giovanella

Lígia lembra do trabalho como vice-líder estudantil e analisa a questão da censura há 30 anos e na atualidade

Lígia Giovanella
Foto: Diego Wendhausen Passos

Data da entrevista: 23/11/2009

Diego: Qual era a sua função na época da Novembrada?

Lígia: Eu era vice-presidente do Diretório Central dos Estudantes, da Universidade Federal de Santa Catarina.

Diego: Qual foi a sua participação na organização do evento da Novembrada?

Lígia: Eu participei junto com os outros membros da direção estudantil e de toda a organização, desde escrever a carta aberta, fazer as faixas, ir à praça, manifestar.

Diego: Atualmente, passados 30 anos da Novembrada, tivemos retorno da democracia, de eleições diretas, só que ainda, muita coisa, muitos problemas ainda ocorrem, por questão de censura, monitoramento da mídia, casos de censuras contra blogs, em alguns casos, processos. Um caso emblemático é o próprio, que teve problemas sérios com a senadora Ideli Salvatti e o deputado Edison Andrino, em que ambos pediram o fechamento do blog. Como você tem visto as mudanças em torno das liberdades democráticas, atualmente?

Lígia: Comparando os anos de 1970, com os anos 2000, temos diferenças enormes. Ainda que a liberdade não seja completa, temos grandes veículos de comunicação que comandam a mídia no país, e ditam a verdade, nós temos liberdade de imprensa, comparativamente com essa época dos anos 1970, em que os veículos eram censurados e tínhamos censura prévia, as músicas e os filmes eram censurados. Você não tinha liberdade de organização, só tinham dois partidos, definidos pela ditadura. É uma diferença enorme, e, como eu disse, a democracia deve ser construída cotidianamente, pela organização social, e não deve ser apenas em termos de direitos políticos. Uma democracia substantiva, significa na construção de direitos sociais. Então, a luta por maior justiça social, por reduzir as desigualdades no país, é uma luta fundamental para a construção de uma democracia. Reduzir as desigualdades significa redistribuir a renda, significa ter uma política econômica que seja de fato diferente, caminhando na direção de um desenvolvimento econômico e ambiental sustentado, redistribuindo a riqueza produzida, isso que é a reconstrução da democracia substantiva, que vai além dos direitos políticos.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Entrevista com Geraldo Barbosa

Geraldo destaca das mudanças sociais e políticas que o país necessitava e quais ainda precisam

Geraldo Barbosa
Foto: Diego Wendhausen Passos

Data da entrevista: 23/11/2009

Diego: Em 1979, nosso país vivia uma séria crise, crise política, crise econômica, a própria crise no sistema militar, que acabou cinco anos depois, e a Novembrada teve uma participação que influenciou com o fim desse ciclo político brasileiro. Como você avalia as mudanças ocorridas naquele período?

Geraldo: A Novembrada foi uma manifestação de massa importante para a desestabilizar a Ditadura Militar e quando fomos presos, os sete estudantes que estavam a frente do DCE, pela Lei de Segurança Nacional, houve uma manifestação envolvendo mais de 20 mil pessoas pedindo para nos soltar. Então, isso foi importante, a maior manifestação de massa de Santa Catarina, contra a Ditadura Militar, mas isso está em um contexto nacional, envolvendo um refluxo da contra-revolução de 1964, que a ditadura se auto-proclamava revolução, mas isso era uma luta de classes por umas palavras. Ela era contra-revolução porque era preventiva, procurando bloquear as reformas democratizantes que tínhamos até o nacional remormismo de João Goulart, para impedir que esse processo se transformasse, evoluísse em uma transformação social mais profunda, necessária para a sociedade brasileira. Então, a contra-revolução de 1964 teve um fluxo e um refluxo, e viveu seu maior fluxo, que vinha desde 1974, pelo menos, com a derrota eleitoral da ditadura, para o MDB, e com as lutas que sempre ocuparam e lutaram, contra a ditadura. Em 1978, 1979 e 1980, houve a ascenção do movimento operário, que afirmou, desde aquele tempo, um novo tipo de presença na vida política nacional, presente até a atualidade, apesar das aparências, de uma organização momentânea, como a de João Goulart, e, também, com a juventude, lutando contra o regime militar desde o início, e no momento, havia uma grande ascenção no movimento popular e estudantil em Florianópolis, e, então, houve aquela grande mobilização, que marcou a história de Santa Catarina, um dia assim, que não foi apenas uma manifestação estudantil, foi também uma manifestação do povo, ficando claro inclusive pelo apoio que tivemos depois de presos, mais de 20 mil pessoas pedindo para nos libertar, a maior manifestação popular, isso sob a repressão. Então, foi o povo de Florianópolis se manifestando e expressando aquilo que era necessário, o desejo do povo brasileiro, ver a ditadura pelas costas, eliminar a ditadura militar. É uma luta que continua, porque uma hora que regime militar aberto tenha saído de lado com a constituinte, que começou em 1985, e terminou em 1988, aquilo se configurou uma transição não ousada, por cima, que acabou se configurando como uma reciclagem da autocracia burguesa, redundando não no reestabelecimento da democracia, porque nunca houve uma democracia para o povo do Brasil. Ela é restrita, para os ricos, e o povo trabalhador, permanece afastado da luta. Então, pensando na ordem burguesa possível, porque isso vai se dar contra a burguesia, que é associada ao imperialismo, ao latifúndio. Essa é a luta do proletariado, do povo trabalhador, e, nessa luta, tanto para ampliar a democracia burguesa, como impor sentidos, nos direitos dos trabalhadores, do povo, quanto uma democracia mais profunda, que é a democracia socialista, mas tem que ser conquistada pela luta organizada e consciente do povo. Ela vai se desenvolver a partir da ligação natural com as reformas mais sentidas do povo, a reforma agrária, ao fim do desemprego, da miséria, da fome, uma vida digna, a saúde, com educação pública e de boa qualidade para a população, essas questões envolvem uma ruptura com o imperialismo e a construção do socialismo, e a combinação dessa luta, pela solução dos problemas mais sentidos do povo, com a luta pela transformação social, vai a consequência, que é a luta pelo socialismo, e, com a construção do desse modelo, que vai passar somente com o fim do estado autocrático burguês, e um novo tipo de estado, apoiado realmente nas forças sociais, no proletariado e pelo povo trabalhador. E essa luta é longa, mas está em curso. Estão ocorrendo, no Brasil, as lutas dos trabalhadores, e eu tenho certeza que elas vão conquistar o social e a democracia social, que é a luta que começou naquele momento, e que ainda conquistou retornos parciais.

Diego: Atualmente, 30 anos atrás, naquele período, vimos pessoas que lutaram contra o regime, juntando-se com pessoas que lutaram a favor, no caso o Fernando Henrique, com Sarney, Bornhausen, Collor de Melo, Paulo Afonso, que ingressou no MDB em 1979, quando a sigla estava em crescimento. Como você vê essas mudanças dos partidos, eles buscam governabilidade?

Geraldo: Quem tem que explicar essas atitudes são os incoerentes. De certa forma, haviam opositores do regime militar, que queriam conciliar com a ditadura, e que acabaram participando de uma solução conservadora, com muito gosto. Outros tinham uma posição mais frontal, então, se você pegar o Lula e outros, durante certo tempo, cumpriram uma luta social mais substancial. Agora, se você ver o programa do PT, realmente, o mérito, o forte, e o positivo da sigla, era seu vínculo com uma certa firmeza, na oposição, e contrário ao governo Sarney, de conciliação conservadora, que sucedeu ao regime militar aberto. Agora, nunca houve, por parte do PT, um programa socialista consistente. Então, essa situação vergonhosa, que vemos hoje, em que um governo, como o do Lula, eleito pelo povo, com a expectativa de abraçar as reformas democratizantes mais radicais, profundas, realmente se configurou como um governo conservador, que mantém uma política, no fundamental, com pequenas modificações positivas, em relação ao Fernando Henrique Cardoso, conservadora, e que a mudança dessa situação passa pela organização popular e a consciência política, no caso, claramente antiimperialista e orientada no socialismo. Então, nas lutas, na formação dos quadros, e não apenas de laboratório, de gabinete, mas em pessoas jovens, em intelectuais, que estudam e se aliam a luta do povo, é que vamos construir um movimento suficientemente forte e coerente, para impulsionar as necessárias transformações, que passam pela transformação da sociedade e do poder político.