domingo, 24 de outubro de 2010

Fernando Alonso vence e assume a liderança

Espanhol ganha a primeira corrida disputada em Yeongam e volta a liderar a classificação

Aproveitando-se do erro de Mark Webber, que rodou, e ainda bateu em Nico Rosberg, além da quebra do motor de Sebastian Vettel, Alonso assumiu a dianteira e manteve sem maiores dificuldades, superando os dois pilotos da Red Bull. Lewis Hamilton, em uma atuação discreta, ainda foi 2º colocado, e Felipe Massa, em 3º lugar, completaram o pódio.

Ferrari retoma a liderança

Superado pelo time rubrotaurino nos treinos de classificação, Fernando Alonso contou com a sorte e chegou a 5ª vitória na temporada, voltando a liderar entre os pilotos. A 3ª posição de Felipe Massa ajudou a escuderia de Maranello a reduzir para 25 pontos a desvantagem para a McLaren no campeonato de equipes.

Red Bull vacila novamente

Mais uma primeira fila, e, novamente, problemas com os pilotos na corrida, tiraram a equipe das bebidas energéticas da vitória. Mark Webber rodou sozinho e ainda bateu na Mercedes de Nico Rosberg, que tentou desviar do australiano, tirando ambos da prova. Sebastian Vettel liderou até a 44ª volta, quando teve problemas no motor e foi ultrapassado por Alonso e Hamilton, parando em seguida.

McLaren ainda segue na disputa

Jenson Button teve uma corrida para esquecer. Sendo um dos primeiros a trocar de pneu, foi rebaixado ao pelotão intermediário, não conseguindo recuperar o tempo perdido, além de ser prejudicado por outras disputas, terminando em 12º lugar. O atual campeão ainda tem chances remotas de chegar ao título, mas a situação ficou ainda mais difícil. Depois de enfrentar problemas nas três etapas anteriores, Hamilton conseguiu uma 2ª colocação, que o mantém vivo na briga pelo campeonato, ficando a 21 pontos de Alonso. No campeonato de construtores, o time de Woking está 27 pontos atrás da Red Bull

Mercedes e Renault nos pontos

Mesmo com a batida de Nico Rosberg, a Mercedes ainda conseguiu pontuar com Michael Schumacher, 4º colocado. Na Renault, Robert Kubica aproveitou os problemas de desgaste nos pneus da Williams e foi 5º lugar, enquanto o companheiro de equipe Vitaly Petrov bateu.

Williams perde pontos na disputa com a Force India

Nas voltas finais, a equipe de Grove perdeu a 5ª e a 6ª posição, por causa do desgaste nos pneus. Nico Hulkemberg parou e terminou em 10º lugar, enquanto Barrichello ficou na pista, sendo ultrapassado por Kubica e Liuzzi. Entre os construtores, o time indiano manteve a 6ª posição.

Sauber pontua novamente

Pela segunda corrida seguida, os dois carros de Peter Sauber chegaram na zona de pontuação. Kamui Kobayashi terminou em 8º, e Nick Heidfeld, em 9º lugar.

Entre os brasileiros, apenas Lucas di Grassi não terminou a corrida

Para o Brasil, foi um resultado razoável. Felipe Massa chegou ao pódio com a 3ª posição, enquanto Rubens Barrichello foi 8º colocado. Bruno Senna, com o fraco Hispania, terminou em 14ª lugar, duas voltas atrás de Fernando Alonso. A corrida para Lucas di Grassi durou até a 25ª volta, quando tentava passar o japonês Sakon Yamamoto, rodou e bateu na proteção de pneus.

Resultados:

Pole: Sebastian Vettel, Red Bull Renault
M.V.: Fernando Alonso, Ferrari

Corrida:
1º) Fernando Alonso, Ferrari
2º) Lewis Hamilton, McLaren Mercedes
3º) Felipe Massa, Ferrari
4º) Michael Schumacher, Mercedes
5º) Robert Kubica, Renault
6º) Vitantonio Liuzzi, Force India Mercedes
7º) Rubens Barrichello, Williams Cosworth
8º) Kamui Kobayashi, Sauber Ferrari
9º) Nick Heidfeld, Sauber Ferrari
10º) Nico Hulkemberg, Williams Cosworth

Classificação:

Mundial de Pilotos
1º) Fernando Alonso, 231 pontos
2º) Mark Webber, 220 pontos
3º) Lewis Hamilton, 210 pontos
4º) Sebastian Vettel, 206 pontos
5º) Jenson Button, 189 pontos
6º) Felipe Massa, 143 pontos
7º) Robert Kubica, 124 pontos
8º) Nico Rosberg, 122 pontos
9º) Michael Schumacher, 66 pontos
10º) Rubens Barrichello, 47 pontos
11º) Adrian Sutil, 47 pontos
12º) Kamui Kobayashi, 31 pontos
13º) Vitantonio Liuzzi, 20 pontos
14º) Vitaly Petrov, 19 pontos
15º) Nico Hulkemberg, 18 pontos
16º) Sebastien Buemi, 7 pontos
17º) Pedro de la Rosa, 6 pontos
18º) Nick Heidfeld, 6 pontos
19º) Jaime Alguersuari, 5 pontos

Mundial de Construtores
1º) Red Bull Renault, 426 pontos
2º) McLaren Mercedes, 399 pontos
3º) Ferrari, 374 pontos
4º) Mercedes, 186 pontos
5º) Renault, 143 pontos
6º) Force India Mercedes, 67 pontos
7º) Williams Cosworth, 64 pontos
8º) Sauber Ferrari, 43 pontos
9º) Toro Rosso Ferrari, 12 pontos

domingo, 10 de outubro de 2010

Entrevista com Aline Dias da Silveira

Aline Dias da Silveira

Data da Entrevista: 31/08/2010

Diego: O Muro de Berlim, construído em 1961, separou um povo, um país e uma cultura em duas, além de ficar conhecido como um dos maiores símbolos da Guerra Fria. Quais foram os principais prejuízos para os alemães que essa divisão trouxe?

Aline: É difícil estabelecer exatamente o que seria prejuízo, e o quê, dentro do prejuízo, pode ser uma vantagem. Quando se fala de cultura, tudo isso é muito relativo, mas eu acho que um dos maiores prejuízos se viu depois. Com a queda, percebeu-se que havia duas culturas, muito diferentes, formas de pensar, de se reunir, além da questão econômica, que foi muito diferenciada, a educação, também muito diferenciada, que os alemães da parte oriental, tiveram muitas dificuldades de ingressar diretamente no mercado de trabalho da parte ocidental. Os principais prejuízos, eu considero que vemos até hoje. Ainda existe muito preconceito em relação ao ocidente e em relação ao oriente, dentro da Alemanha, e o que aconteceu, é que principalmente na parte leste, desenvolveram-se grupos xenofóbicos. O que eu escutei quando estive lá, é que se dizia, para o pessoal da DDR (Deutsche Demokratische Republik), em português, RDA (República Democrática da Alemanha), da parte oriental, que os nazistas estavam na parte ocidental. Sempre se teve essa ideia. Mas quando caiu o muro, viu-se que talvez essa falta de contato com o oeste e com o desemprego, além da concorrência, dentro das empresas, desenvolveu-se um forte sentimento xenofóbico, na parte oriental da Alemanha, que até hoje tem problemas. Até mesmo algum europeu, como um espanhol, tem dificuldades, em alguns lugares na Alemanha Oriental. Eu tinha um amigo, que é brasileiro, negro, e tinha partes de Berlim que ele não ia, e que às vezes em que tentou pegar o metrô, para ir até lá, teve problemas, começaram a provocar ele, a chamar com insultos preconceituosos, enquanto que Berlim é uma cidade universal, uma cidade cosmopolita, com pessoas de todo o mundo, mas tem regiões ainda, na parte oriental, que são perigosas para estrangeiros.

Diego: Dividida pelos soviéticos e norte-americanos em 1949, os alemães viveram durante 41 anos com dois países separados por questões políticas. De que forma isso atrapalhou o país?

Aline: Essa pergunta é muito relacionada a primeira. O que mais atrapalhou, no meu ponto de vista, foi exatamente a questão de criar uma identidade. Criaram-se várias identidades, e que em alguns momentos, elas são conflituosas, até mesmo dentro da política, e, como eu falei anteriormente, tanto no movimento, como nos grupos xenofóbicos, tem do outro lado, da parte ocidental, uma outra política, não xenofóbica, mas uma tendência de centro, quase direita, que seria o grupo no poder, atualmente, que é o CDU (Partido Cristão), de tendências neoliberais, e que tem uma política, não contra o imigrante, mas de estabelecer limites rígidos para a entrada deles, e até mesmo na Guerra, no Iraque, quando o Gerhard Shroeder foi contra o conflito, mas a Angela Merkel, do CDU, disse que ele estava errado e defendendo o apoio aos Estados Unidos, que sempre ajudaram os alemães, então, dá para ver um pouco dessa política.

Sebastian Vettel vence no Japão

Em corrida dominada pela equipe austríaca, piloto alemão conquistou o hat trick, com pole position, volta mais rápida e a vitória em Suzuka.

A corrida foi bem movimentada, com constantes trocas de voltas mais rápidas, entre os pilotos de Red Bull, McLaren e Fernando Alonso, mas no fim, os touros vermelhos garantiram a dobradinha. Outros destaques foram as atuações de Michael Schumacher e do piloto da casa, Kamui Kobayashi, que novamente fez boas ultrapassagens.

Red Bull vence disputa equilibrada

Com os dois carros na primeira fila, o time das bebidas energéticas perdeu a liderança da corrida apenas no momento em que Vettel e Webber trocaram pneus, deixando Button na frente por algumas voltas, mas o piloto da McLaren, que havia adotado uma estratégia diferente, partindo com compostos duros. Nas voltas finais, bastou administrar a vantagem conquistada ao longo da corrida.

Fernando Alonso garante pódio da Ferrari

O piloto espanhol chegou mais uma vez entre os três primeiros, devido também aos problemas com o carro de Hamilton, que perdeu rendimento no trecho final, por causa da caixa de câmbio. Felipe Massa, largando em 11º, tocou com Rosberg e bateu no Force India de Vitantonio Liuzzi, na primeira curva, encerrando a participação no fim-de-semana.

McLaren nos pontos

Jenson Button chegou a liderar a disputa, quando os líderes pararam nos boxes. Adotando a estratégia de sair com os pneus mais duros, ficou mais tempo na pista e utilizou os compostos macios na parte final, ganhando a 4ª colocação quando o companheiro Lewis Hamilton passou a enfrentar problemas com a caixa de câmbio, ficando sem a 3ª marcha. Hamilton estava se aproximando de Alonso, mas começou a perder ritmo nas voltas finais, caindo para o 5º lugar.

Michael Schumacher volta a pontuar

Com uma das melhores atuações no ano, Schumacher foi bem em solo japonês. Ultrapassando Barrichello na volta inicial, ficou atrás do companheiro Nico Rosberg, mas recuperou a 6ª posição quando o colega de equipe bateu ao perder a roda a seis voltas do fim.

Sauber competitiva

O time de Peter Sauber conseguiu colocar aos dois pilotos entre os 10 melhores. Nick Heidfeld, em uma atuação regular, foi 8º colocado, e Kamui Kobayashi, mais uma vez fazendo boas ultrapassagens, terminou uma posição a frente do colega de equipe.

Rubinho soma pontos para a Williams

A escuderia de Grove ainda conseguiu dois pontos no Japão. Nico Hulkemberg, com problemas na largada, bateu com o Renault de Petrov e ficou pelo caminho, enquanto Barrichello levou o outro carro ao 9º lugar.

Sebastien Buemi soma ponto para Toro Rosso

O suíço Buemi, andando no bloco intermediário, conseguiu seu time a mais um ponto na temporada, terminando a corrida na 10ª colocação, enquanto o companheiro Jaime Alguersuari ficou no 11º posto.

Renault fora dos pontos

Depois de cinco corridas, a escuderia francesa teve uma péssima corrida, saindo sem pontuar. Enquanto o russo Vitaly Petrov envolven-se em incidentes com Felipe Massa e Nico Hulkemberg, ficando fora nos instantes iniciais da disputa, o polonês Robert Kubica parou por causa de uma roda, durante a passagem do safety car.

Apenas Rubinho se deu bem entre os brasileiros

Lucas di Grassi sequer largou. Quando aquecia o carro para alinhar no grid, antes da volta de apresentação, perdeu o bólido na curva e bateu. Felipe Massa bateu na primeira curva com Vitantonio Liuzzi, da Force India, enquanto Bruno Senna terminou em 15º lugar, duas voltas atrás de Mark Webber, o vencedor da etapa. Apenas Rubens Barrichello consegiu algo de positivo para o Brasil na corrida, com a 9ª colocação.

Resultados:

Pole: Sebastian Vettel, Red Bull Renault
M.V.: Mark Webber, Red Bull Renault

Corrida:
1º) Sebastian Vettel, Red Bull Renault
2º) Mark Webber, Red Bull Renault
3º) Fernando Alonso, Ferrari
4º) Jenson Button, McLaren Mercedes
5º) Lewis Hamilton, McLaren Mercedes
6º) Michael Schumacher, Mercedes
7º) Kamui Kobayashi, Sauber Ferrari
8º) Nick Heidfeld, Sauber Ferrari
9º) Rubens Barrichello, Williams Cosworth
10º) Sebastien Buemi, Toro Rosso Ferrari

Classificação:

Mundial de Pilotos
1º) Mark Webber, 220 pontos
2º) Fernando Alonso, 206 pontos
3º) Sebastian Vettel, 206 pontos
4º) Lewis Hamilton, 192 pontos
5º) Jenson Button, 189 pontos
6º) Felipe Massa, 128 pontos
7º) Nico Rosberg, 122 pontos
8º) Robert Kubica, 114 pontos
9º) Michael Schumacher, 54 pontos
10º) Adrian Sutil, 47 pontos
11º) Rubens Barrichello, 41 pontos
12º) Kamui Kobayashi, 27 pontos
13º) Vitaly Petrov, 19 pontos
14º) Nico Hulkemberg, 17 pontos
15º) Vitantonio Liuzzi, 12 pontos
16º) Sebastien Buemi, 7 pontos
17º) Pedro de la Rosa, 6 pontos
18º) Jaime Alguersuari, 5 pontos
19º) Nick Heidfeld, 4 pontos

Mundial de Construtores
1º) Red Bull Renault, 426 pontos
2º) McLaren Mercedes, 381 pontos
3º) Ferrari, 334 pontos
4º) Mercedes, 174 pontos
5º) Renault, 133 pontos
6º) Force India Mercedes, 59 pontos
7º) Williams Cosworth, 57 pontos
8º) Sauber Ferrari, 37 pontos
9º) Toro Rosso Ferrari, 12 pontos

sábado, 9 de outubro de 2010

Entrevista com Érico Georg

Érico Georg
Foto: Diego Wendhausen Passos

Data da entrevista: 11/09/2010

Diego: Dividida entre norte-americanos e soviéticos após a Segunda Guerra Mundial, a Alemanha ficou sob influência capitalista no lado ocidental, enquanto a parte leste teve imposta o sistema comunista. O que essa divisão representou para o povo alemão?

Erico: Representou exatamente a possibilidade do alemão ocidental ter mais liberdade. Houve investimento maciço na Alemanha Ocidental pelas forças aliadas, principalmente os Estados Unidos, que através do Programa Marshall, reconstruiu o país, e por ter um berço cultural muito forte e uma indústria, antes da guerra, bem fortalecida. Eles tinham toda uma tradição, da cultura, da indústria e do comércio. O investimento feito pelos norte-americanos, fez com que o lado oeste tivesse um progresso rápido, uma resposta imediata com os investimentos feitos no ocidente alemão, no que concerne a indústria e a tecnologia. Então, reconstruiu-se com uma certa rapidez. Em questão de 20 anos, deu um salto de zero, que ela foi totalmente destruída, a um avanço bem grande, com um forte apoio, mas tinha uma base. Já a Alemanha Oriental, pelo contrário, não teve esse apoio do regime comunista, até por que a União Soviética também estava fragilizada, e eles permaneceram muito no que restou da parte leste no pós-guerra. Eles ainda viviam muito da agricultura, em função de algumas universidades, importantes, como Leipzig e outras que tinham nome, onde havia uma relativa cultura de medicina e de tecnologias também, mas não houveram investimentos, então, ficou estagnada. Além disso, a liberdade, dos dois povos. Quando estive lá, os alemães que nós conversávamos, em nível de universidade, não viam com bons olhos o alemão oriental, tinham sempre um certo desprezo, porque eles não progrediram, digamos assim. Eu estive lá em 1982, o muro foi derrubado em 1989, então, ainda havia certa animosidade entre as duas Alemanhas, mas ao mesmo tempo, havia o sonho de reunificação. Isso sempre teve, mas que eles enxergavam nisso uma dificuldade muito grande, até eles se equalizassem, em termos culturais e de progresso. Outra questão que eu acho, e é bom ressaltar, é na parte da imprensa. Na Alemanha Ocidental, sentíamos uma plena liberdade de imprensa. A televisão, na época em que eu estava lá, era estatal. Estavam começando a implantar a tv a cabo, mas a mídia televisiva e rádios, pertenciam ao governo, mas havia liberdade de imprensa. Jornais tinham vários, e todos eles tinham bastante liberdade de criticar, mas o alemão é um crítico muito construtivo. Não é o que vemos, às vezes, no Brasil, que a imprensa é crítica para minimizar o poder, não é construtiva. Lá não, percebíamos que era uma crítica, mas eram construtivas, enquanto na Alemanha Oriental, não. A mídia e a imprensa eram controladas. A pessoa se sentia presa, sem liberdade de ir e vir, sem ter informações, digamos assim, mais livres.

Diego: Enquanto a Alemanha Ocidental conseguiu se firmar como um força política e econômica no cenário europeu e internacional, a parte oriental ficou estagnada, além de sofrer com a crise na União Soviética. Até que ponto o contexto da Guerra Fria influiu nas duas Alemanhas?

Erico: Havia muito interesse dos norte-americanos, e também dos aliados, da Grã-Bretanha, da França, durante a Guerra Fria, em derrubar tudo o que poderia haver de positivo no regime comunista. Obviamente que a Alemanha teve esse benefício de ter um expectro muito maior, de poder ter uma participação no cenário político internacional, enquanto que o lado comunista não, ficando mais em função do próprio modelo comunista, que era fechado, e o que se vende no mundo, é aquilo que aparece. Você tem países fortes, como era a Inglaterra, o próprio Estados Unidos, principalmente, agindo sobre a possibilidade de mostrar as maravilhas da Alemanha Ocidental, comparativamente à Alemanha Oriental. No aspecto político, isso influenciou muito negativamente, e a parte leste ficou muito presa ao sistema e a política comunista, que no fim, deu no que deu. O regime comunista se mostrou frágil e impotente, e acabou com o Gorbatchev, fazendo com que desse a liberdade à Alemanha Oriental, ocasionando a derrubada do Muro de Berlim.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Entrevista com Renato Aurélio dos Santos

Renato Aurélio dos Santos
Foto: Diego Wendhausen Passos

Data da entrevista: 28/07/2010

Diego: Depois de 45 anos separadas, as Alemanhas se juntaram em 1990, quase um ano após a queda do Muro de Berlim. Até que ponto a divisão política prejudicou os alemães?

Renato: A divisão política da Alemanha, é resultado da Conferência de Potsdam, em 1945, no fim da Segunda Guerra Mundial. Principal líder dos países do chamado eixo, foi responsabilizada pelo conflito, teve o seu território dividido, dentro de uma conjuntura política nova, que era a Guerra Fria. Então, a Conferência de Potsdam, como a Conferência de Teerã, têm um mundo que começa a surgir depois desde então, um mundo bipolarizado, o capitalismo, representado pelos Estados Unidos, e o socialismo, liderado pela União Soviética. Dentro desse contexto, a Alemanha é dividida. A cidade de Berlim, que ficava na parte oriental, também é dividida em zonas de ocupação, e, a divisão alemã, divide uma nação, enfraquece o país politicamente, militarmente, e a deixa refém da Guerra Fria, então, o fim dessa divisão ocorre justamente no período em que essa conjuntura vai terminando, que foi no final nos anos de 1980.

Diego: Consolidada como umas das principais potências políticas e econômicas da Europa e do mundo, a Alemanha passou por dois processos de unificação, um deles em 1871, e o mais recente, em 1990, quando vivíamos um período de grandes mudanças políticas, devido também a crise no sistema comunista e da antiga União Soviética. Quais foram os principais benefícios para os alemães, no aspecto geopolítico?

Renato: A Alemanha, a Ocidental, estava em um processo de integração com a Europa, desde os anos de 1950. Então, as velhas amarguras, rancores, ressentimentos que os alemães tinham com os franceses, por exemplo, foram superados, graças a liderança do Charles de Gaulle, pela França, e do Konrad Adenauser, da Alemanha Ocidental, em criar uma comunidade europeia de nações, a CECA, a Comunidade Europeia do Carvão e do Aço, e o Tratado de Roma, que criou o Mercado Comum Europeu, a chamada Europa dos Seis, foi o processo que deu então o início a essa integração, que cresceu mais ainda nos anos de 1980, com a criação da Comunidade Econômica Europeia, a Europa dos 12, juntando países da Península Ibérica, a Inglaterra, a Irlanda, enfim. Os germânicos, como o maior PIB (Produto Interno Bruto), passaram a liderar esse processo de unificação europeia, e, tentando superar os velhos rancores e ressentimentos. O sonho de reunificar o país, no caso de incorporar o lado oriental alemão à República Federal da Alemanha, era um sonho que todos os tedescos tinham, mas que era impossível no contexto da Guerra Fria. Durante a era Gorbatchev, com as políticas da União Soviética, a Glasnost e a Perestroika, esse sonho de reunificação parecia mais próximo, diferente dos anos de 1960, por exemplo. Com as mudanças, em alguns países da Europa Oriental, da chamada “cortina de ferro”, principalmente a Polônia, com o sindicato solidariedade, a Hungria e a Tchecoslováquia, que tiveram movimentos democráticos, em 1966, em território húngaro, e, em 1968, com os tchecos, também começaram a abalar o domínio da União Soviética sobre o leste europeu, e, a queda do Muro de Berlim, que foi o ponto alto do processo de desmoronamento desse modelo soviético, de socialismo autoritário, que foi implantado, e, quando a Alemanha foi reunificada, em 1990, por um lado fortaleceu o papel geopolítico germânico, mas por outro lado, trouxe problemas, porque o lado oriental estava defasado, economicamente. O novo governo, com a nação reunificada, de Helmut Kohl, que era do Partido Democrata Cristão, utilizou uma grande quantidade de recursos para investir no lado oriental, para deixá-lo em um patamar equivalente ao desenvolvimento da parte ocidental. Então, com a reunificação, nós tínhamos duas realidades na Alemanha, uma super desenvolvida, e outra, muito atrasada. Primeiro foi necessário os alemães investirem no lado leste, para dar-lhe uma infraestrutura, desenvolver-se, dentro de um contexto capitalista, e, por outro lado, depois de resolver esses problemas internos, que os alemães tiveram como começar a dar cartadas mais altas no cenário geopolítico mundial.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Os 20 anos da reunificação alemã: Parte 2

Os 20 anos da reunificação alemã

Parte 2: A Alemanha desde 1945

A Alemanha no contexto da Guerra Fria

Dividida entre Estados Unidos, Inglaterra, França e União Soviética, a Alemanha foi a grande perdedora nas duas grandes guerras. Entre 1945 e 1990, o mundo foi bipolarizado, entre capitalismo e comunismo.

Divisão alemã em 1946
Mapa: Wikipédia

Ianques e soviéticos dominaram o cenário político e econômico nesses 45 anos, buscando expandir os modelos entre os países. No continente americano, apenas Cuba aderiu o modelo comunista, sofrendo retaliações dos estadounidenses até a atualidade. Na Europa, a parte oeste ficou ao lado da economia de mercado, enquanto o leste aderiu ao sistema planificado. Os norte-coreanos, chineses e vietnamitas implantaram o comunismo, enquanto sul-coreanos e japoneses aliaram-se ao capitalimo.

Durante esses anos, a Alemanha foi um dos países que mais cresceu, mas também teve prejuízos, devido a divisão em duas nações. Na Conferência de Potsdam, foi dividida em duas.

Além da divisão, foi construído o Muro de Berlim, em 1961, derrubado 28 anos depois. As dificuldades para atravessar a fronteiras eram grandes. A Alemanha Ocidental vivia um regime democrático, com maior abertura da imprensa, ao contrário da vizinha oriental, que havia controle sobre a mídia.

Com a crise na União Soviética, na década de 1980, e a política de abertura no leste europeu, também conhecida como cortina de ferro, começando com a desfragmentação soviética, que encerrou em 1991 com a independência das ex-repúblicas integrantes do antigo país. Com a chegada de Michkail Gorbatchev, em 1985, os alemães começaram a ver próximo o sonho de reunificação.

A queda do Muro de Berlim, em novembro de 1989, foi o passo final ao processo de reintegração, concluído em 3 de outubro de 1990. Por outro lado, as diferenças ainda são grandes, pois a parte ocidental, mais desenvolvida, a equalizar com o lado oriental, que ficou sem apoio do modelo comunista.

A Alemanha após a reunificação

Quase cinco décadas divida em dois países, separada por dois blocos antagônicos, tornou-se o maior símbolo da Guerra Fria, entre Estados Unidos e União Soviética. A República Federal da Alemanha, capitalista, foi apoiada pelos norte-americanos, enquanto a República Democrática da Alemanha, comunista, recebeu o apoio dos soviéticos. A parte oeste desenvolveu-se e em poucos anos voltou a ser uma referência política e econômica, enquanto o lado oriental estagnou.

A Alemanha desde 1990
Mapa: Wikipédia

Superando antigas rivalidades e diferenças políticas com franceses e ingleses, os alemães passaram a liderar o bloco europeu, um dos grupos econômicos mais fortes do mundo. A União Europeia, iniciada em 1993, agrega grande parte dos países europeus.

Com o fim da bipolarização, o mundoficou dividido em três grandes áreas. No continente americano, os Estados Unidos são a principal força política e econômica. Na Europa, a Alemanha é a principal força, enquanto na Ásia, japoneses e chineses são as nações com maior destaque na região.

Referências:

Internet:

IG: Muro de Berlim

História da Alemanha (Wikipédia)

Conferência de Postdam (Wikipédia)

Conferência de Teerã (Wikipédia)

Konrad Adenauer (Wikipédia)

Helmut Kohl (Wikipédia)

Livros:

História ilustrada do Século 20. Folha da Tarde

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Os 20 anos da reunificação alemã: Parte 1

Os 20 anos da reunificação alemã

Parte 1: A Alemanha nas Guerras Mundiais


Primeira Guerra Mundial (1914-1918)

A unificação da Alemanha, ocorrida em 1871, gerou uma briga política contra a França, que perdeu o território da Alsácia e Lorena para os alemães, na guerra franco-prussiana, provocando um sentimento de revanchismo por parte dos franceses.

O crescimento do Império Alemão começou a ameaçar a hegemonia política e econômica da Inglaterra, que dominava o cenário mundial na época. Nesse período, Alemanha, Áustria-Hungria e Itália formaram a Tríplice Aliança, apoio político e militar caso houvesse um conflito entre as potências naquele período. Anos mais tarde, ingleses, franceses e russos criaram a Tríplice Entente, para equalizar forças com o bloco oponente.

A Europa em 1914
Mapa: Wikipédia

Com o assassinato do arqueduque Francisco Ferdinando, do Império Áustro-Húngaro, eclodiu a Primeira Guerra Mundial, que durou quatro anos. Nos primeiros dois anos, os confrontos ficaram restritos apenas entre as nações europeias, foi marcada pelo equilíbrio de forças, com os alemães levando a melhor na frente oriental, enquanto eram contidos por franceses e ingleses na parte ocidental.

Em 1917, com a desistência da Rússia, que passou pela revolução comunista, e o ingresso dos Estados Unidos, apoiando França e Inglaterra, os alemães perderam força e renderam-se em novembro de 1918, sofrendo uma série de punições com o Tratado de Versalhes.


Período entre guerras (1919-1939)

Principal penalizada pelo conflito mundial, os alemães sofreram uma série de punições, financeiras, políticas e econômicas. Multas milionárias, perda da Alsácia e Lorena para a Frença, aliado a crise econômica durante os anos de 1920, criaram o sentimento de nacionalismo dentro da Alemanha, causando a promoção de Adolf Hitler como chanceler do país, ocorrida em 1934, iniciando uma política autoritária e expansionista.
A Europa em 1923

Um dos pontos que marcou Hitler foi o anti-seminismo, perseguindo os adeptos à religião judaica, além de invasões aos territórios vizinhos. A Áustria, terra natal do governante alemão, foi anexada em 1938, e novas invasões foram ocorrendo. O acordo com a União Soviética, administrada por Joseph Stalin, além da criação do eixo Roma-Berlim-Tóquio, com Mussolini (Itália) e o imperador Hiroito (Japão), os alemães preparavam a revanche contra os inimigos. Em setembro de 1939, com a invasão a Polônia, França e Inglaterra declararam guerra à Alemanha, dando início ao conflito mais violento da história da humanidade.

A Liga das Nações, criada para promover a paz entre as nações, não foi eficiente, devido também a ausência de Estados Unidos, Alemanha e União Soviética, além das punições que haviam sido impostas ao alemães, criando um sentimento de revanchismo político contra o Tratado de Versalhes.

Segunda Guerra Mundial (1939-1945)

Sem a presença de União Soviética e Estados Unidos nos primeiros anos do conflito, os alemães invadiram a conquistaram França, Dinamarca, Noruega, Bélgica, Holanda. Na Inglaterra, barraram diante dos radares britânicos e da RAF (Royal Air Force). A Alemanha dominou até meados de 1941, quando resolveu invadir a União Soviética, no rigoroso inverno europeu. Derrotada pelos soviéticos, começaram a sucumbir no lado leste, e recuando em direção a Berlim.

No mesmo ano, os japoneses, disputando com os estadounidenses o domínio no Oceano Pacífico, atacaram a base de Pearl Harbor, iniciando a participação ianque na guerra. Com os soviéticos chegando ao território alemão, os norte-americanos uniram força com ingleses e franceses e começaram a cercar pela parte oeste. Os italianos, derrotados em inúmeros combates na África e na Europa, não tiveram forças para ajudar os aliados.

Com a queda de Mussolini, em 1943, e assassinado em 28 de abril de 1945, os italianos deixaram os alemães isolados. O suicídio de Adolf Hitler, em 30 de abril de 1945, segundo a versão oficial, é um mistério até os dias atuais. Muitos acreditam que o ex-chanceler tenha fugido e ficado em algum lugar do mundo, inclusive no sul do Brasil ou na Argentina.

Em 8 de maio, a Alemanha assinou a rendição, dando fim ao conflito na Europa. A guerra teve fim no início de setembro, quando os Estados Unidos lançaram duas bombas atômicas contra o Japão, em Hiroshima e Nagazaki. Nesse período, tivemos um novo contexto geopolítico, tirando a Europa do centro econômico internacional, tornando o mundo bipolarizado, até 1990, dividido em capitalismo, liderado pelos norte-americanos, enquanto os soviéticos influenciaram o bloco comunista.

Referências:

Internet:

História da Alemanha (Wikipédia)

Primeira Guerra Mundial (Wikipédia)

Segunda Guerra Mundial (Wikipédia)

Livros:

As Guerras Mundiais 1914-1945: Paulo Fagundes Vizentini

Toda a História: José Jobson de A. Arruda e Nelson Piletti

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Peter Warr morre na França

Ex-dirigente da Lotus morre aos 72 anos

Peter Warr (1938-2010), que trabalhou nas equipes Lotus, Wolf e Fittipaldi, faleceu ontem, vítima de infarto fulminante, na França, onde residia.

A primeira passagem de Warr pela escuderia fundada por Colin Chapman foi entre 1958, ano da estreia na Fórmula 1, até 1976, quando foi para a Wolf, ficando até 1979, quando o time canadense saiu da categoria e teve parte dos seus espólios foram vendidos a família Fittipaldi, permanecendo na equipe brasileira até 1982, quando fechou as portas.

Com a morte de Colin Chapman, até hoje suspeita, no fim de 1982, Peter Warr retornou a Lotus, permanecendo até 1989, quando foi demitido da escuderia britânica, que já enfrentava uma fase descendente. Foi também na Lotus, que trabalhou ao lado dos três brasileiros campeões mundiais: Emerson Fittipaldi (1970-1973), Nelson Piquet (1988-1989) e Ayrton Senna (1985-1987).

Outra curiosidade do ex-diretor era a coleção que fazia dos capacetes dos pilotos com o qual trabalhou. Em 1996, ao fazer um leilão, conseguiu quase meio milhão de dólares.

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João Carlos Viana (jcspeedway): Que pena!

Sauber confirma patrocínio novo e dupla do próximo ano

Peter Sauber anuncia parceria com empresa mexicana Telmex e Kamui Kobayashi e Sérgio Perez como pilotos da equipe para 2011

O japonês Kobayashi, contratado no início do ano, permanece na escuderia, depois de uma temporada sólida e muito competitiva, melhorando ao longo da competição, depois de um início sem grandes resultados.

Depois de 30 anos, os mexicanos voltarão a contar um piloto na Fórmula 1. Hector Rebaque, companheiro de Nelson Piquet na Brabham, em 1981, foi o último piloto do país norte-americano a disputar a categoria. Além de trazer Perez, o time suíço fechou também parceria com o patrocinador do piloto, a Telmex, de Carlos Slim, sócio minoritário da escuderia. O piloto de testes também recebe o apoio do empresário, Esteban Gutiérrez, atual campeão da GP 3.

Para Peter Sauber, a opotunidade oferecida à Perez, deve-se também ao bom desempenho apresentado na GP 2, uma das principais categorias de acesso para a Fórmula 1.

Já o piloto estreante disse que "A F1 é o sonho de todo jovem piloto. E agora, este sonho vai virar realidade para mim. Embora eu esteja ciente de que este é um grande desafio e uma grande responsabilidade, estou feliz em aceitar isso e orgulhoso por representar meu país na mais alta categoria do esporte a motor".

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Os 20 anos da reunificação alemã: material produzido no Folha da Tarde

Material produzido pelo livro História Ilustrada do Século 20, do Folha da Tarde, falando sobre a queda do Muro de Berlim e da reunificação da Alemanha

História Ilustrada do Século 20
Folha da Tarde
1989-1990

1989
Página 578
Foto: Diego Wendhausen Passos
Acervo: História Ilustrada do Século 20

Alemanha Oriental derruba o Muro

10 de novembro. O Muro de Berlim, maior símbolo da opressão comunista desde sua criação há 28 anos, foi ao chão nesta noite. Na badalada da meia-noite, o governo da Alemanha Oriental abriu suas fronteiras, e o Muro - duas barreiras de concreto de 2m40 de altura que dividem Berlim - foi transformado em antiguidade da Guerra Fria, agora relegada aos registros históricos.

Milhares de alemães-orientais atravessaram a fronteira, ansiosos por experimentar a liberdade e ver como vive a próspera metade ocidental da cidade. Outros passaram horas dançando em cima do muro. Outros ainda descarregaram anos de raiva com marretas; alguns levaram pedaços para vender como suvenir. Outros ainda apenas ficaram no local e choraram, talvez em memória das 75 pessoas que foram mortas tentando atravessá-lo.

Alemães-ocidentais acolheram seus compatriotas com alegria. O chanceler Helmut Kohl discursou diante do Paço Municipal de Berlim. "Estamos a seu lado, somos e permaneceremos uma única nação. Pertencemos à mesma pátria", disse. Para muitos, porém, a alegria foi contida pela preocupação com a capacidade de lidar com a enxurrada de refugiados - 225 mil da Alemanha Oriental e 300 mil da URSS e da Polônia só neste ano. O prefeito de Berlim Ocidental fez um apelo aos que pensam ir para o Ocidente: "Por favor, deixem para amanhã, depois de amanhã. Estamos tendo problemas com isso".

De fato, só 1.500 dos vários milhares que visitaram Berlim Ocidental anunciaram a intenção de ficar. Quem voltar ao Leste encontrará seu país em meio a mudanças radicais. Autoridades alemãs-orientais anunciaram planos de realizar eleições livres e implantar novas leis sobre liberdade de associação e de imprensa. Na semana passada, o Politburo, de 21 membros, foi substituído.

Há apenas nova meses o dirigente alemão-oriental, Erich Honeker, profetizou que o muro ficaria de pé por mais cem anos. Analistas ocidentais concordaram que eram pequenas as chances de seu país ser sacudido pelas mudanças que abalam o Leste europeu.

O governo Honeker, porém, foi deposto em 18 de outubro por fortes protestos e pelo êxodo ao Ocidente, que chegou a 300 pessoas por hora na semana passada. A carência de mão-de-obra aumentou tanto que o governo se viu obrigado a usar soldados para operar trens e ônibus. O novo regime de Egon Krenz admitiu que só medidas radicais poderiam persuadir seus cidadãos a não fugir do país. Com a bênção do líder soviético Mikhail Gorbatchov, Krenz extinguiu todas as restrições à migração e às viagens ao Ocidente.

1990
Página 591
Foto: Diego Wendhausen Passos
Acervo: História Ilustrada do Século 20

Alemanha é reunificada após 45 anos

3 de outubro. A Alemanha é uma só nação novamente. A divisão entre Oriente e Ocidente não existe mais. Seu renascimento se deu na badalada da meia-noite, acompanhado por um repique do Sino da Liberdade, no Paço Municipal de Berlim. Na virada do relógio, um grito de euforia veio dos milhares de pessoas que, chorando, se abraçavam e agitavam um mar de bandeiras com as cores nacionais - preto, vermelho e amarelo. A Alemanha, dividida há 45 anos com o fim da 2ª Guerra Mundial, conquista independência definitiva.

Mesmo com fogos de artifício iluminando o céu de Berlim, as pessoas demoraram a perceber que há apenas 11 meses o odiado Muro começara a ruir e os soviéticos afrouxavam sua mão de ferro ma Alemanha Oriental. Muitos estão conscientes de que o futuro reserva enormes dificuldades, mas isso é para amanhã. Hoje a noite é só festa.

Batizada de República Federal da Alemanha como a antiga Alemanha Ocidental, a nação reunificada tem uma população de 78,5 milhões de pessoas. Constituição, governo, moeda, bandeira e hino nacional são os que até hoje eram da Alemanha Ocidental. O governo passa a ser encabeçado pelo chanceler alemão-ocidental Helmut Kohl. A economia da nova Alemanha agora terá de se adaptar à dura realidade de absorver a economia da Alemanha Oriental, que se encontra em situação calamitosa há anos. Políticos e economistas já advertem os abastados alemães-orientais das conseqüências da unificação.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Os 20 anos da reunificação alemã: material produzino no Jornal O Estado

Material produzido pelo Jornal O Estado (extinto em 2008), no dia 4 de outubro de 1990, falando sobre a reunificação da Alemanha.

Jornal O Estado
Edição: 04/10/1990
Capa
Foto: Diego Wendhausen Passos
Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina


Alemanha festeja unificação até o nascer o sol


Os alemães festejaram até o amanhecer a reunificação do país, uma antiga aspiração depois da divisão surgida no fim da 2ª Guerra Mundial. O movimento cresceu a partir de novembro do ano passado, quando os orientais começaram a desafiar os governantes comunistas exigindo a reunificação que já constava na constituição da Alemanha Ocidental. Dez meses depois, as duas Alemanhas estão unificadas, surgindo uma grande potências mundial.

Internacional
Página 11
Foto: Diego Wendhausen Passos
Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina


Mundo voltou-se para a Alemanha

Noticiário internacional deu destaque, ontem, para a histórica reunificação

LONDRES – As imegans dos alemães festejando e cantando seu hino nacional até a madrugada foram difundidas em todo o mundo pela televisão e a notícia dominou as páginas dos jornais de ontem. O noticiário, porém não se referia só a festejos, foram inúmeras as alusões à II Guerra Mundial. Alguns empregaram nas manchetes o lema nazista dos anos 30 "Eim volm, ein reich, ein fuhrer", ou seja, "Um povo, um estado, um líder". Os editoriais recordaram a devastação nazista na Europa e manifestaram inqueitação com a rapidez do processo de reunificação, mas também demonstraram alívio pela inclusão da Alemanha na OTAN e na Comunidade Econômica Européia.

"O surgimento de uma Alemanha grande e concentrada em si mesma, livre da ameaça militar do Oriente, é um perigo mais potente que a da nação pequena e enfurecida dos anos 35", comentou o conservador Daily Telegraph, de Londres, em editorial. "A renúncia alemã de cooperar na crise do Golfo Pérsico é o primeiro indício disto", acrescentou.

Na Holanda, o liberal Diário de Amsterdã disse que a última Alemanha unificada "transformou a Europa em um sangrento campo de batalha em duas ocasiões. Mas seria contraproducente ao desenvolvimento da Europa. Começar a tratar a Alemanha com suspeitas desde o começo", disse o jornal. O Financial Times vê outra questão. "Uma Alemanha que se preocupa obstinadamente apenas com seus assuntos internos".

"Encaramos o futuro como amigos, aliados e sócios", foi o que destacou a primeira-ministra inglesa, Margareth Tatcher, em mensagem enviada ontem ao chanceler alemão Helmut Kohl. Tatcher tinha alertado, em entrevista pela televisão, que a Alemanha será muito dominante na Europa. "Caberá a nós impedi-la que domine", advertiu. (AP)

O sonho começou desde a divisão

BERLIM – Os alemães desejavam uma nação unificada desde que a Alemanha foi dividida em estados rivais após a II Guerra Mundial. Mas a possibilidade da reunificação só apareceu após a estrondosa manifestação pela democracia, em Leipzig, em 20 de novembro do ano passado. Pela primeira vez, os alemães orientais, que desafiavam os governantes comunistas, começaram a pedir em público a reunificação, já prevista na Constituição da Alemanha Ocidental.

O povo alemão comemorava a abertura do Muro de Berlim em 9 de novembro, e o governo do lado oriental insistia ainda em um estado independente. Prometia uma "terceira alternativa" sócio-econômica, que combinaria o melhor do socialismo e do capitalismo. Mas os manifestantes de Leipzig começaram a clamar por uma "pátria unida". Uma multidão de 100 mil pessoas gritava "somos só um povo", numa variação do lema revolucionário "somos o povo".

Ato semelhante teria sido impossível sob o regime linha dura do ex-dirigente Erich Honecker, destituído um mês antes. Sua autoridade foi minada, em parte, pela fuga de milhares de alemães orientais para o Ocidente, através da Hungria e da Tchecoslováquia, no verão e no outono.

Depois do protesto de Leipzig, os políticos ocidentais não perderam tempo e aderiram ao clamor nascido na própria Alemanha Oriental. Até então, apenas o chanceler Helmut Kohl era favorável à unificação.

Uma semana depois, em 27 de novembro, as manifestações se tornaram mais estridentes e, em 1º de dezembro, o Parlamento alemão oriental anulou a cláusula constitucional que garantia ao Partido Comunista o "papel dirigente" no governo.

Desde ontem, 10 meses depois, as duas Alemanhas estão unificadas. Durante esse período aconteceram as primeiras eleições livres na parte oriental, em 18 de março, e a reunião decisiva do chanceler Kohl com o presidente soviético Mikhail Gorbatchev, em julho. A reunião produziu a chave para o processo: a concordância de Moscou para que a Alemanha soberana e unida faça parte da OTAN. (AP)

domingo, 3 de outubro de 2010

Os 20 anos da reunificação alemã: material produzido no Diário Catarinense

Material produzido pelo jornal Diário Catarinense (RBS), nos dias 4 e 5 de outubro de 1990, falando sobre a reunificação da Alemanha.

Edição: 04/10/1990
Mundo
Página 11

Foto: Diego Wendhausen Passos
Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina

Disciplina germânica se impõe após unidade

Berlim – Após uma noite de festas pela reunificação do país, que levaram milhões de pessoas às ruas em várias cidades, o dia amanheceu ontem ensolarado na Alemanha, com os cidadãos aproveitando o feriado nacional para comparecer aos muitos serviços religiosos, cerimônias formais e concertos comemorativos ao “Dia da Unidade”.

Nem por isso a velha disciplina germânica foi esquecida: ao raiar da aurora, varredores e caminhões lava-ruas já limpavam as garrafas de champanhe e cerveja, confetes e papel picado deixados pelos foliões na noite anterior. Os sinos das igrejas repicaram em várias cidades para anunciar o amanhecer do “Dia da Unidade”.

Graças ao rigoroso esquema de segurança, os incidentes com os jovens de esquerda e de direita durante a noite foram poucos e de menor gravidade. Em Bonn, a polícia prendeu cerca de 50 neonazistas que caminharam pelo centro da cidade com bandeiras exibindo a cruz suástica. As detenções foram aplaudidas pelos populares. (UPI)

Papa abençoa unificação

Vaticano – O Papa João Paulo II abençoou ontem a unificação alemã em mensagem dirigida ao presidente Richard Von Weizsaecker: “O momento solene em que a unificação da Alemanha se realiza por livre autodeterminação me proporciona a feliz oportunidade de dirigir meus melhores votos e minha bênção a todos os responsáveis do país e da sociedade alemã”.

“Dirijo meus votos de paz e bem-estar aos cidadãos, que estavam convencidos da realização pacífica da liberdade e que buscaram sem trégua. Na convicção de que o povo alemão concederá no futuro sua contribuição à coexistência com os demais povos europeus e à solidariedade com os países de todo o mundo, vos imploro, senhor presidente, e a todos os cidadãos de seu país, por ocasião deste dia tão esperado da unidade alemã, a melhor bênção do Senhor”, conclui o Para. O presidente Fernando Collor também enviou ontem a mensagem a Weizsaecker e ao chanceler Helmut Kohl parabenizando pela histórica unificação. (AFP-Sucursal/RBS)

Israel pede que a RFA não esqueça holocausto

Para o povo judeu, a unificação alemã pode representar uma ameaça para o futuro, caso a nova pátria receba orientação nacionalista

Jerusalém – O governo de Israel saudou cautelosamente, ontem, a reunificação da Alemanha, manifestando o desejo de que a nova pátria germânica, unida, trabalhe vigorosamente contra o anti-semitismo e se lembre de sua obrigação moral para com o povo judeu. O primeiro-ministro israelense, Yitzhak Shamir, recebeu o encarregado de negócios da embaixada alemã, Helmut Richter, e lhe disse que a data de ontem era de grande significação, não só para o povo alemão, mas também para o de Israel, sendo naturalmente um dia de reflexão. “Se por um lado não interferimos no traçado das fronteiras em lugar nenhum, de outro temos de lembrar a tragédia sem precedentes infligida pela Alemanha nazista a nosso povo, aleijando-o por gerações”, assinalou Shamir a Richter.

O chanceler israelense, David Levy, pensa que a reunificação alemã tinha que ser recebida também com a esperança de que “a Alemanha de amanhã seja uma Alemanha que, acima de tudo, passará no teste com o povo judeu”. Levy também deseja do novo país uma posição contra o anti-semitismo e a perpétua lembrança de suas obrigações moral e nacional pelo que fez ao povo judeu. Durante o holocausto da II Guerra Mundial, seis milhões de judeus foram mortos pelos nazistas.

As autoridades israelenses têm se mostrado desapontadas com o tratado de reunificação das Alemanhas e outros documentos a elas relacionados, por não enfatizarem em seu texto o papel do holocausto na história germânica. O presidente do parlamento de Israel, Dov Shilansky, ele mesmo um sobrevivente do holocausto, qualificou a data de ontem como “um dia de luto”.

“Tenho medo de que uma Alemanha unida, uma vez que grupos anti-semitas e nazistas estão em ascensão, no futuro possa se voltar para uma política expansionista e para uma orientação nacionalista de mente estreita”, disse Yitzhak Arad, diretor do Museu do Holocausto, em Jerusalém. “Não sou contra as boas relações com a Alemanha, mas como um sobrevivente tenho sentimento e os expresso. Para mim, hoje não é um dia de festa, um dia de celebração”, comentou Arad. (UPI)


Edição: 05/10/1990
Opinião
Página 6



Foto: Diego Wendhausen Passos
Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina

A nova Alemanha

Nelson Sirotsky
Vice-Presidente da RBS

A esperança é de que a nova Alemanha construa o seu futuro com o mesmo espírito daqueles que derrubaram o muro

Estar na Alemanha e circunstancialmente presenciar esta época de transformações extraordinárias representa uma experiência fascinante de participar, mesmo como observador, de um tempo que será lembrado no futuro como histórico.

O 3 de outubro de 1990, celebrado com emoção, teve o povo na rua, fogos de artifício, concertos imponentes e cerveja de graça. Mais do que isto, a data traz consigo inúmeros significados para as 79 milhões de pessoas (63 milhões de ocidentais e 16 milhões de orientais) que a partir de agora formam a população dessa Alemanha unida depois de 45 anos.

Para muitos, representa o verdadeiro final da II Guerra Mundial. A retomada do controle de Berlim pelos alemães, efetivada no simples ato de recolhimento das bandeiras americana, francesa e inglesa no famoso “Check Point Charlie”, simboliza o final da ocupação aliada naquela que certamente será confirmada como a nova capital alemã.

Ressurge uma Alemanha com desafios extraordinários pela frente, sendo o mais destacado deles a eliminação dos profundos contrastes existentes entre as duas sociedades que dão origem a esta nova superpotência. Contrastes estes absolutamente perceptíveis nas ruas de Berlim, onde Mercedes e BMWs de alta tecnologia dividem os espaços com ultrapassados “trabis” (carro popular fabricado na Alemanha Oriental) ou com desengonçados “ladas” produzidos na Rússia.

No campo empresarial, o desafio de integrar a antiga DDR aos mesmos padrões alcançados pelo lado ocidental, pode oferecer um interessante volume de oportunidades. Ainda nesta semana a poderosa Daimler-Benz (fabricante do automóvel Mercedes) anunciou investimentos de 3 bilhões de marcos (U$ 2 bi) a serem desenvolvidos na parte oriental do país nos próximos dois ou três anos.

Há, finalmente, aqueles que se preocupam com o futuro da Alemanha olhando para o seu passado, quando numa época de grave crise econômica e elevado índice de desemprego, a solução oferecida, e aceita pela sociedade, foi a de uma terrível onda nacionalista que mais tarde veio a horrorizar a humanidade.

Decisivamente, vive-se na Alemanha do presente um momento de transição e de história. A esperança de todos, direta ou indiretamente, ligados a este processo, é de que a nova Alemanha possa construir o seu futuro no mesmo espírito daqueles que derrubaram o muro de Berlim em novembro de 1989, ou no espírito de 30.000 atletas que no último domingo invadiram a “Porta de Brandenburgo” comemorando com uma maratona o ressurgimento de um grande país.

Alemanha: 20 anos da reunificação

Matéria dos 20 anos da reunificação alemã.

Nesta série, será passado um resumo sobre a trajetória das duas Guerras Mundiais, e da Alemanha desde 1945, com o fim do segundo grande conflito, no qual passou pela divisão do país e após a reunificação.

Cronograma das matérias produzidas e entrevistas realizadas

03/10/2010: Material produzido no Diário Catarinense

04/10/2010: Material produzido no Jornal O Estado

05/10/2010: Material produzido na Enciclopédia do Folha da Tarde, em História Ilustrada do Século 20

06/10/2010: Parte 1: A Alemanha nas duas Guerras Mundiais (1914-1945)

07/10/2010: Parte 2: A Alemanha desde 1945

08/10/2010: Entrevista com Renato Aurélio dos Santos

09/10/2010: Entrevista com Érico Georg

10/10/2010: Entrevista com Aline Dias da Silveira