quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Entrevista com Cláudio Prisco Paraíso

Cláudio Prisco Paraíso
Foto: Diego Wendhausen Passos

Data da entrevista: 05/07/2010


Diego: Durante o período de negociações entre os partidos, visando as atuais coligações, você abordou bastante, em sua coluna, as movimentações ocorridas em Santa Catarina ao longo dos processos eleitorais, desde 1982. Na sua análise, quais foram as principais mudanças ocorridas ao longo desses anos?

Cláudio: Primeiro; nesses 28 anos, o PFL nasceu de um desmembramento do PDS, para apoiar o Tancredo Neves, no Colégio Eleitoral, já que o PDS era o partido do Paulo Maluf, que disputou contra o Tancredo. Então, ali surgiu o PFL, um apêndice do PDS. Uma das mudanças que mais chamou a atenção, mas nem tanto, foi a união do PFL com o PMDB, em 1994, com Paulo Afonso Vieira, e em 2006, com Luiz Henrique da Silveira. Essa foi uma mudança clássica, por quê? Quando o Luiz Henrique da Silveira se elegeu, em 2002, foi combatendo as oligarquias, a mesma oligarquia que o apoiou na reeleição, em 2006, leia-se, Jorge Bornhausen. Quer dizer, o mesmo Jorge Bornhausen, que ele condenou, em 2002, combatendo as oligarquias, ajudou a reelegê-lo em 2006. Então, uma mudança é essa, o PFL, que nasceu de um braço do PDS, acabou estando em 1994 e em 2006, com Paulo Afonso Vieira e Luiz Henrique da Silveira, com o PMDB. Agora, a mudança mais acentuada, sem dúvida nenhuma, foi do entrosamento, apoio branco, entre o PP e o PT. É bom lembrar, o PP é um resultado da ARENA, quando nós tínhamos no bipartidarismo, no período militar, o MDB, que era o partido de oposição, e a ARENA. Com o fim do bipartidarismo, veio o pluripartidarismo. Da ARENA, nasceu o PDS, o atual PP, e o PMDB, do MDB. Aliás, vale registrar também que o PSDB, assim como o PFL, em relação ao PDS, o PSDB desmembrou-se do PMDB, e surgiu um novo partido. O PSDB esteve com o Amin, em 1998, mas, em 2002, voltou para o PMDB. Esteve com o PT, em 1994, e, apesar de Fernando Henrique candidato, ele esteve com os petistas, apoiando o Lula da Silva, em Santa Catarina. Depois, em 1998, estiveram com o Esperidião Amin, depois, em 2002, com o Luiz Henrique, ou seja, o PSDB balançou muito. Mas o que mais chama a atenção, voltando a pergunta inicial, foi essa troca de apoios entre o PP, leia-se, ARENA, PDS, e o PT, de Lula da Silva, porque, em 2006, o Esperidião Amin, no 2º turno, apoiou Lula, e Lula, apoiou Esperidião. PP e PT trocaram apoio. Os pepistas apoiaram os petistas no nacional, que retribuíram no estadual. Isso, sem dúvida nenhuma, foi a mudança mais radical nesses 28 anos do restabelecimento das eleições, por quê? Porque Ideli Salvatti combatia vibrantemente Esperidião e Ângela Amin, e viraram parceiros, com a possibilidade de nesta eleição, com as candidaturas de Ângela Amin e Ideli Salvatti, contra Raimundo Colombo, a tendência é que Raimundo Colombo avance para o 2º turno contra uma das duas. A que chegar ao 2º turno, deve receber o apoio da outra, repetindo-se o que aconteceu em 2006.

Diego: Em relação a 2006, apenas o PDT mudou de coligação, deixando o grupo governista, migrando para o bloco opositor, juntando-se com os progressistas, enquanto as outras agremiações mantiveram-se praticamente nas mesmas composições, mesmo com diversos descontentamentos de alguns integrantes, em especial no PMDB. O que motiva a mudança de lado dos partidos, hora aliado a grupos governistas, outra, com correntes contrárias aos antigos aliados?

Cláudio: Infelizmente, as coligações no Brasil, e em Santa Catarina não é diferente, não seguem mais aquela linha do passado, do tempo do PSD, da UDN, do PTB, a questão programática, ideológica. Hoje não existe mais isso, é de acordo com a conveniência, o interesse. Basta ver que o PMDB e o PP, progressista, ficaram de um lado para outro, para ver com quem iriam estar, se estariam com Dilma ou com Serra, quer dizer, quem oferecer o melhor apoio e ver quem consegue a melhor composição, a melhor coligação, enfim, não tem mais aqueles parâmetros éticos, que presidiam as relações partidárias do passado, infelizmente não tem mais isso. O PDT é um exemplo, esteve coligado com o Luiz Henrique, em 2006, e agora está com Ângela Amin, quer dizer, tentou estar com o PT. Não deu por que a senadora Ideli Salvatti vetou o nome de Manoel Dias, e ele fechou com Ângela Amin. Não existe mais aquela orientação, o eleitor está absolutamente perdido em meio as coligações mais esdrúxulas que podem ter, é uma geléia geral, é um samba do crioulo doido, como costumamos dizer, porque dentro do estado, um partido está coligado com outro. No plano nacional, o PMDB é vice de Dilma Rousseff, com o Michel Temer, que é o presidente nacional do partido, só que em Santa Catarina, o PMDB está coligado com o PSDB e o DEM, que são os maiores opositores do governo Lula, que estão com o Serra. Realmente, o eleitor não compreende mais nada, acho que precisamos viabilizar, neste país, talvez não vejo interesse no congresso nacional para isso, uma ampla reformulação partidária, para que nós possamos ter uma meia dúzia de partidos que possam representar o conjunto de ideias da sociedade, e não 40 ou 50 partidos, muitos de aluguel, que para oferecer tempo de televisão para uma eventual coligação, negociam não só eleitoral ou partidariamente, mas também logisticamente, operacionalmente, financeiramente, ou seja, para oferecer tempo de televisão para um determinado candidato. Então, isso desvirtua a prática política e cada vez aumenta o desinteresse da opinião pública com a classe política, indiscutivelmente.

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