quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Entrevista com Walter Souza

Walter Souza fala da cobertura que fez pela RBS TV, onde atuava como repórter


Walter Souza
Foto: Diego Wendhausen Passos

Data da entrevista: 25/11/2009

Diego: Como foi a cobertura da mídia naquele dia dos protestos?

Walter: Eu posso informar o trabalho que nós realizamos pela RBS TV. Nós recebemos no dia 29, a orientação do chefe da equipe, na época, o Ariel Bottaro Filho, que quatro equipes trabalhariam no dia seguinte, a primeira equipe, com a Adriana, cobriria a chegada do presidente no aeroporto Hercílio Luz, eu cobriria a visita ao palácio Cruz e Souza, a visita central, que acabou gerando todo o problema, uma terceira equipe iria à Palhoça, e, uma quarta equipe, faria um trabalho que eu não me recordo agora, e, eu voltaria para fazer um trabalho à tarde, já com o presidente inaugurando, uma coisa que a imprensa infelizmente não divulgou na época, o primeiro biodigestor do sul do Brasil, que aconteceu aqui, hoje Epagri, naquela oportunidade, a Acaresc, foi isso.

Diego: Na época, mesmo com a abertura política que estava começando, o fim do bipartidarismo, a abertura política, já começava a se ensaiar o retorno da democracia, mas mesmo assim, ainda tinha muita censura. E a mídia, foi proibida, vocês foram proibidos de divulgar algum fato, de falar alguma coisa sobre o assunto?

Walter: Eu só queria retornar um pouquinho, e já entro neste assunto. O primeiro protesto que aconteceu, foi na passagem do presidente, da comitiva do presidente, e o governador Jorge Bornhausen, em um Galaxy, pela Costeira do Pirajubaé, na Avenida Jorge Lacerda. Ali, senhoras, de ponta a ponta, com panela na mão e crianças protestando com relação a dificuldade que havia de você comprar comida, naquela época. Foi o primeiro protesto contra o Figueiredo, claro que não gostou, não se agradou disso, e comentou isso com o governador. Depois, quando chegou na Praça XV de Novembro, algumas manifestações começaram a aparecer, e aconteceu o famoso gesto, quando colocou dois dedos, mas ele nunca os juntou, quis dizer o seguinte que o público que o vaiava era um público pequeno, e de fato era, eu estava presente, em relação à mão espalmada, dizia que era o público grande, que o aplaudia. Só que o trabalho dos estudantes conseguiu contagiar e contagiar, e no fim, isso acabou gerando um protesto que exigiu da Polícia Militar um controle maior, e aí, começaram as xingações, abaixo Figueiredo, o povo não tem medo, isso era uma das frases, refrões, que até hoje são utilizados também, mas ligados a um protesto com relação à alimentação, a própria posição do governo militar, mas a gente tem que registrar que o começo da abertura foi no governo Figueiredo, com o próprio reconhecimento do Partido Comunista Brasileiro, aí, até que uma frase da época, que dizia, legaliza o partido, pega uma Kombi e bota o partido dentro, que não dava mais que isso. Aí aconteceu o seguinte, o pessoal começou a xingar, xingou a mãe do presidente, e aí ele desceu, contrariando o posicionamento da segurança dele, contrariando o posicionamento do governador Jorge Konder Bornhausen, desceu. E eu sempre disse que nós devemos ter capacidade de fazer aquilo que nos propomos, mas se o fator sorte não andar conosco, isso pode tolher o trabalho. E eu tive a sorte, porque ele saiu do Palácio Cruz e Souza, que na época era o palácio administrativo também, saiu pela porta principal, dobrou à direita e começou a descer a Praça XV de Novembro, de repente, ele virou para a esquerda, para ir em relação ao povo, ao encontro deles, e aí, quem estava ali, era eu, fui o único a entrevistá-lo, e perguntei para ele na oportunidade, presidente, você quer falar com o povo? Aí, ele respondeu, quero saber o a minha mãe tem a ver com isso? E o fdp era dito, causando uma ressonância na Praça XV, a minha mãe não tem nada com isso, mas é aquela força de expressão, que é utilizada em um protesto. Aí consegui entrevistá-lo, e ele falou durante uns 30, 50 segundos, no máximo, depois ele desceu, o Galaxy, ficou parado, com as janelas abertas, no comecinho da Felipe Schmidt, esquina com a Praça XV de Novembro, quando aí surgiu o outro problema, com o César Cals, Ministro de Minas, que o pessoal, ao protestar, conseguiu derrubá-lo, e tal. E eu conversei com o presidente, não foi das melhores, a sua vinda aqui? E ele apontou para o governador, não estou gostando disso governador, já não gostei lá no Palácio e não estou gostando disso, foram as palavras do presidente Figueiredo.

Diego: E quais foram as dificuldades dos profissionais da mídia, para cobrir o evento, diante daquelas manifestações todas?

Walter: Começamos a ter esse tolhimento do trabalho, após a chegada, reflexo do panelaço acontecido na Costeira do Pirajubaé. Não existia celular naquela época, mas pelo rádio dos carros, eu sabia que na saída do aeroporto, ao passar pela Costeira, houve um protesto, já estávamos cientes disso, a equipe que estava na Praça XV de Novembro. E aí, o que acontece? O protesto acabou recrudescendo, aumentou, exigiu um comportamento até diferente da Polícia Militar. Agora, esse material, muita gente critica que esse material não foi para o ar. A minha função como repórter, era mandar o material para a redação da RBS. Agora, quem aproveita a matéria nova, tinha gente acima de mim, a direção e tal. Então, esse material não foi aproveitado aquele dia, como não foi aproveitado pela Globo, agora, por que não foi, não é problema meu.

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