sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Entrevista com Geraldo Barbosa

Geraldo destaca das mudanças sociais e políticas que o país necessitava e quais ainda precisam

Geraldo Barbosa
Foto: Diego Wendhausen Passos

Data da entrevista: 23/11/2009

Diego: Em 1979, nosso país vivia uma séria crise, crise política, crise econômica, a própria crise no sistema militar, que acabou cinco anos depois, e a Novembrada teve uma participação que influenciou com o fim desse ciclo político brasileiro. Como você avalia as mudanças ocorridas naquele período?

Geraldo: A Novembrada foi uma manifestação de massa importante para a desestabilizar a Ditadura Militar e quando fomos presos, os sete estudantes que estavam a frente do DCE, pela Lei de Segurança Nacional, houve uma manifestação envolvendo mais de 20 mil pessoas pedindo para nos soltar. Então, isso foi importante, a maior manifestação de massa de Santa Catarina, contra a Ditadura Militar, mas isso está em um contexto nacional, envolvendo um refluxo da contra-revolução de 1964, que a ditadura se auto-proclamava revolução, mas isso era uma luta de classes por umas palavras. Ela era contra-revolução porque era preventiva, procurando bloquear as reformas democratizantes que tínhamos até o nacional remormismo de João Goulart, para impedir que esse processo se transformasse, evoluísse em uma transformação social mais profunda, necessária para a sociedade brasileira. Então, a contra-revolução de 1964 teve um fluxo e um refluxo, e viveu seu maior fluxo, que vinha desde 1974, pelo menos, com a derrota eleitoral da ditadura, para o MDB, e com as lutas que sempre ocuparam e lutaram, contra a ditadura. Em 1978, 1979 e 1980, houve a ascenção do movimento operário, que afirmou, desde aquele tempo, um novo tipo de presença na vida política nacional, presente até a atualidade, apesar das aparências, de uma organização momentânea, como a de João Goulart, e, também, com a juventude, lutando contra o regime militar desde o início, e no momento, havia uma grande ascenção no movimento popular e estudantil em Florianópolis, e, então, houve aquela grande mobilização, que marcou a história de Santa Catarina, um dia assim, que não foi apenas uma manifestação estudantil, foi também uma manifestação do povo, ficando claro inclusive pelo apoio que tivemos depois de presos, mais de 20 mil pessoas pedindo para nos libertar, a maior manifestação popular, isso sob a repressão. Então, foi o povo de Florianópolis se manifestando e expressando aquilo que era necessário, o desejo do povo brasileiro, ver a ditadura pelas costas, eliminar a ditadura militar. É uma luta que continua, porque uma hora que regime militar aberto tenha saído de lado com a constituinte, que começou em 1985, e terminou em 1988, aquilo se configurou uma transição não ousada, por cima, que acabou se configurando como uma reciclagem da autocracia burguesa, redundando não no reestabelecimento da democracia, porque nunca houve uma democracia para o povo do Brasil. Ela é restrita, para os ricos, e o povo trabalhador, permanece afastado da luta. Então, pensando na ordem burguesa possível, porque isso vai se dar contra a burguesia, que é associada ao imperialismo, ao latifúndio. Essa é a luta do proletariado, do povo trabalhador, e, nessa luta, tanto para ampliar a democracia burguesa, como impor sentidos, nos direitos dos trabalhadores, do povo, quanto uma democracia mais profunda, que é a democracia socialista, mas tem que ser conquistada pela luta organizada e consciente do povo. Ela vai se desenvolver a partir da ligação natural com as reformas mais sentidas do povo, a reforma agrária, ao fim do desemprego, da miséria, da fome, uma vida digna, a saúde, com educação pública e de boa qualidade para a população, essas questões envolvem uma ruptura com o imperialismo e a construção do socialismo, e a combinação dessa luta, pela solução dos problemas mais sentidos do povo, com a luta pela transformação social, vai a consequência, que é a luta pelo socialismo, e, com a construção do desse modelo, que vai passar somente com o fim do estado autocrático burguês, e um novo tipo de estado, apoiado realmente nas forças sociais, no proletariado e pelo povo trabalhador. E essa luta é longa, mas está em curso. Estão ocorrendo, no Brasil, as lutas dos trabalhadores, e eu tenho certeza que elas vão conquistar o social e a democracia social, que é a luta que começou naquele momento, e que ainda conquistou retornos parciais.

Diego: Atualmente, 30 anos atrás, naquele período, vimos pessoas que lutaram contra o regime, juntando-se com pessoas que lutaram a favor, no caso o Fernando Henrique, com Sarney, Bornhausen, Collor de Melo, Paulo Afonso, que ingressou no MDB em 1979, quando a sigla estava em crescimento. Como você vê essas mudanças dos partidos, eles buscam governabilidade?

Geraldo: Quem tem que explicar essas atitudes são os incoerentes. De certa forma, haviam opositores do regime militar, que queriam conciliar com a ditadura, e que acabaram participando de uma solução conservadora, com muito gosto. Outros tinham uma posição mais frontal, então, se você pegar o Lula e outros, durante certo tempo, cumpriram uma luta social mais substancial. Agora, se você ver o programa do PT, realmente, o mérito, o forte, e o positivo da sigla, era seu vínculo com uma certa firmeza, na oposição, e contrário ao governo Sarney, de conciliação conservadora, que sucedeu ao regime militar aberto. Agora, nunca houve, por parte do PT, um programa socialista consistente. Então, essa situação vergonhosa, que vemos hoje, em que um governo, como o do Lula, eleito pelo povo, com a expectativa de abraçar as reformas democratizantes mais radicais, profundas, realmente se configurou como um governo conservador, que mantém uma política, no fundamental, com pequenas modificações positivas, em relação ao Fernando Henrique Cardoso, conservadora, e que a mudança dessa situação passa pela organização popular e a consciência política, no caso, claramente antiimperialista e orientada no socialismo. Então, nas lutas, na formação dos quadros, e não apenas de laboratório, de gabinete, mas em pessoas jovens, em intelectuais, que estudam e se aliam a luta do povo, é que vamos construir um movimento suficientemente forte e coerente, para impulsionar as necessárias transformações, que passam pela transformação da sociedade e do poder político.

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