segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Os 20 anos da reunificação alemã: material produzino no Jornal O Estado

Material produzido pelo Jornal O Estado (extinto em 2008), no dia 4 de outubro de 1990, falando sobre a reunificação da Alemanha.

Jornal O Estado
Edição: 04/10/1990
Capa
Foto: Diego Wendhausen Passos
Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina


Alemanha festeja unificação até o nascer o sol


Os alemães festejaram até o amanhecer a reunificação do país, uma antiga aspiração depois da divisão surgida no fim da 2ª Guerra Mundial. O movimento cresceu a partir de novembro do ano passado, quando os orientais começaram a desafiar os governantes comunistas exigindo a reunificação que já constava na constituição da Alemanha Ocidental. Dez meses depois, as duas Alemanhas estão unificadas, surgindo uma grande potências mundial.

Internacional
Página 11
Foto: Diego Wendhausen Passos
Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina


Mundo voltou-se para a Alemanha

Noticiário internacional deu destaque, ontem, para a histórica reunificação

LONDRES – As imegans dos alemães festejando e cantando seu hino nacional até a madrugada foram difundidas em todo o mundo pela televisão e a notícia dominou as páginas dos jornais de ontem. O noticiário, porém não se referia só a festejos, foram inúmeras as alusões à II Guerra Mundial. Alguns empregaram nas manchetes o lema nazista dos anos 30 "Eim volm, ein reich, ein fuhrer", ou seja, "Um povo, um estado, um líder". Os editoriais recordaram a devastação nazista na Europa e manifestaram inqueitação com a rapidez do processo de reunificação, mas também demonstraram alívio pela inclusão da Alemanha na OTAN e na Comunidade Econômica Européia.

"O surgimento de uma Alemanha grande e concentrada em si mesma, livre da ameaça militar do Oriente, é um perigo mais potente que a da nação pequena e enfurecida dos anos 35", comentou o conservador Daily Telegraph, de Londres, em editorial. "A renúncia alemã de cooperar na crise do Golfo Pérsico é o primeiro indício disto", acrescentou.

Na Holanda, o liberal Diário de Amsterdã disse que a última Alemanha unificada "transformou a Europa em um sangrento campo de batalha em duas ocasiões. Mas seria contraproducente ao desenvolvimento da Europa. Começar a tratar a Alemanha com suspeitas desde o começo", disse o jornal. O Financial Times vê outra questão. "Uma Alemanha que se preocupa obstinadamente apenas com seus assuntos internos".

"Encaramos o futuro como amigos, aliados e sócios", foi o que destacou a primeira-ministra inglesa, Margareth Tatcher, em mensagem enviada ontem ao chanceler alemão Helmut Kohl. Tatcher tinha alertado, em entrevista pela televisão, que a Alemanha será muito dominante na Europa. "Caberá a nós impedi-la que domine", advertiu. (AP)

O sonho começou desde a divisão

BERLIM – Os alemães desejavam uma nação unificada desde que a Alemanha foi dividida em estados rivais após a II Guerra Mundial. Mas a possibilidade da reunificação só apareceu após a estrondosa manifestação pela democracia, em Leipzig, em 20 de novembro do ano passado. Pela primeira vez, os alemães orientais, que desafiavam os governantes comunistas, começaram a pedir em público a reunificação, já prevista na Constituição da Alemanha Ocidental.

O povo alemão comemorava a abertura do Muro de Berlim em 9 de novembro, e o governo do lado oriental insistia ainda em um estado independente. Prometia uma "terceira alternativa" sócio-econômica, que combinaria o melhor do socialismo e do capitalismo. Mas os manifestantes de Leipzig começaram a clamar por uma "pátria unida". Uma multidão de 100 mil pessoas gritava "somos só um povo", numa variação do lema revolucionário "somos o povo".

Ato semelhante teria sido impossível sob o regime linha dura do ex-dirigente Erich Honecker, destituído um mês antes. Sua autoridade foi minada, em parte, pela fuga de milhares de alemães orientais para o Ocidente, através da Hungria e da Tchecoslováquia, no verão e no outono.

Depois do protesto de Leipzig, os políticos ocidentais não perderam tempo e aderiram ao clamor nascido na própria Alemanha Oriental. Até então, apenas o chanceler Helmut Kohl era favorável à unificação.

Uma semana depois, em 27 de novembro, as manifestações se tornaram mais estridentes e, em 1º de dezembro, o Parlamento alemão oriental anulou a cláusula constitucional que garantia ao Partido Comunista o "papel dirigente" no governo.

Desde ontem, 10 meses depois, as duas Alemanhas estão unificadas. Durante esse período aconteceram as primeiras eleições livres na parte oriental, em 18 de março, e a reunião decisiva do chanceler Kohl com o presidente soviético Mikhail Gorbatchev, em julho. A reunião produziu a chave para o processo: a concordância de Moscou para que a Alemanha soberana e unida faça parte da OTAN. (AP)

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