sábado, 9 de outubro de 2010

Entrevista com Érico Georg

Érico Georg
Foto: Diego Wendhausen Passos

Data da entrevista: 11/09/2010

Diego: Dividida entre norte-americanos e soviéticos após a Segunda Guerra Mundial, a Alemanha ficou sob influência capitalista no lado ocidental, enquanto a parte leste teve imposta o sistema comunista. O que essa divisão representou para o povo alemão?

Erico: Representou exatamente a possibilidade do alemão ocidental ter mais liberdade. Houve investimento maciço na Alemanha Ocidental pelas forças aliadas, principalmente os Estados Unidos, que através do Programa Marshall, reconstruiu o país, e por ter um berço cultural muito forte e uma indústria, antes da guerra, bem fortalecida. Eles tinham toda uma tradição, da cultura, da indústria e do comércio. O investimento feito pelos norte-americanos, fez com que o lado oeste tivesse um progresso rápido, uma resposta imediata com os investimentos feitos no ocidente alemão, no que concerne a indústria e a tecnologia. Então, reconstruiu-se com uma certa rapidez. Em questão de 20 anos, deu um salto de zero, que ela foi totalmente destruída, a um avanço bem grande, com um forte apoio, mas tinha uma base. Já a Alemanha Oriental, pelo contrário, não teve esse apoio do regime comunista, até por que a União Soviética também estava fragilizada, e eles permaneceram muito no que restou da parte leste no pós-guerra. Eles ainda viviam muito da agricultura, em função de algumas universidades, importantes, como Leipzig e outras que tinham nome, onde havia uma relativa cultura de medicina e de tecnologias também, mas não houveram investimentos, então, ficou estagnada. Além disso, a liberdade, dos dois povos. Quando estive lá, os alemães que nós conversávamos, em nível de universidade, não viam com bons olhos o alemão oriental, tinham sempre um certo desprezo, porque eles não progrediram, digamos assim. Eu estive lá em 1982, o muro foi derrubado em 1989, então, ainda havia certa animosidade entre as duas Alemanhas, mas ao mesmo tempo, havia o sonho de reunificação. Isso sempre teve, mas que eles enxergavam nisso uma dificuldade muito grande, até eles se equalizassem, em termos culturais e de progresso. Outra questão que eu acho, e é bom ressaltar, é na parte da imprensa. Na Alemanha Ocidental, sentíamos uma plena liberdade de imprensa. A televisão, na época em que eu estava lá, era estatal. Estavam começando a implantar a tv a cabo, mas a mídia televisiva e rádios, pertenciam ao governo, mas havia liberdade de imprensa. Jornais tinham vários, e todos eles tinham bastante liberdade de criticar, mas o alemão é um crítico muito construtivo. Não é o que vemos, às vezes, no Brasil, que a imprensa é crítica para minimizar o poder, não é construtiva. Lá não, percebíamos que era uma crítica, mas eram construtivas, enquanto na Alemanha Oriental, não. A mídia e a imprensa eram controladas. A pessoa se sentia presa, sem liberdade de ir e vir, sem ter informações, digamos assim, mais livres.

Diego: Enquanto a Alemanha Ocidental conseguiu se firmar como um força política e econômica no cenário europeu e internacional, a parte oriental ficou estagnada, além de sofrer com a crise na União Soviética. Até que ponto o contexto da Guerra Fria influiu nas duas Alemanhas?

Erico: Havia muito interesse dos norte-americanos, e também dos aliados, da Grã-Bretanha, da França, durante a Guerra Fria, em derrubar tudo o que poderia haver de positivo no regime comunista. Obviamente que a Alemanha teve esse benefício de ter um expectro muito maior, de poder ter uma participação no cenário político internacional, enquanto que o lado comunista não, ficando mais em função do próprio modelo comunista, que era fechado, e o que se vende no mundo, é aquilo que aparece. Você tem países fortes, como era a Inglaterra, o próprio Estados Unidos, principalmente, agindo sobre a possibilidade de mostrar as maravilhas da Alemanha Ocidental, comparativamente à Alemanha Oriental. No aspecto político, isso influenciou muito negativamente, e a parte leste ficou muito presa ao sistema e a política comunista, que no fim, deu no que deu. O regime comunista se mostrou frágil e impotente, e acabou com o Gorbatchev, fazendo com que desse a liberdade à Alemanha Oriental, ocasionando a derrubada do Muro de Berlim.

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