domingo, 10 de outubro de 2010

Entrevista com Aline Dias da Silveira

Aline Dias da Silveira

Data da Entrevista: 31/08/2010

Diego: O Muro de Berlim, construído em 1961, separou um povo, um país e uma cultura em duas, além de ficar conhecido como um dos maiores símbolos da Guerra Fria. Quais foram os principais prejuízos para os alemães que essa divisão trouxe?

Aline: É difícil estabelecer exatamente o que seria prejuízo, e o quê, dentro do prejuízo, pode ser uma vantagem. Quando se fala de cultura, tudo isso é muito relativo, mas eu acho que um dos maiores prejuízos se viu depois. Com a queda, percebeu-se que havia duas culturas, muito diferentes, formas de pensar, de se reunir, além da questão econômica, que foi muito diferenciada, a educação, também muito diferenciada, que os alemães da parte oriental, tiveram muitas dificuldades de ingressar diretamente no mercado de trabalho da parte ocidental. Os principais prejuízos, eu considero que vemos até hoje. Ainda existe muito preconceito em relação ao ocidente e em relação ao oriente, dentro da Alemanha, e o que aconteceu, é que principalmente na parte leste, desenvolveram-se grupos xenofóbicos. O que eu escutei quando estive lá, é que se dizia, para o pessoal da DDR (Deutsche Demokratische Republik), em português, RDA (República Democrática da Alemanha), da parte oriental, que os nazistas estavam na parte ocidental. Sempre se teve essa ideia. Mas quando caiu o muro, viu-se que talvez essa falta de contato com o oeste e com o desemprego, além da concorrência, dentro das empresas, desenvolveu-se um forte sentimento xenofóbico, na parte oriental da Alemanha, que até hoje tem problemas. Até mesmo algum europeu, como um espanhol, tem dificuldades, em alguns lugares na Alemanha Oriental. Eu tinha um amigo, que é brasileiro, negro, e tinha partes de Berlim que ele não ia, e que às vezes em que tentou pegar o metrô, para ir até lá, teve problemas, começaram a provocar ele, a chamar com insultos preconceituosos, enquanto que Berlim é uma cidade universal, uma cidade cosmopolita, com pessoas de todo o mundo, mas tem regiões ainda, na parte oriental, que são perigosas para estrangeiros.

Diego: Dividida pelos soviéticos e norte-americanos em 1949, os alemães viveram durante 41 anos com dois países separados por questões políticas. De que forma isso atrapalhou o país?

Aline: Essa pergunta é muito relacionada a primeira. O que mais atrapalhou, no meu ponto de vista, foi exatamente a questão de criar uma identidade. Criaram-se várias identidades, e que em alguns momentos, elas são conflituosas, até mesmo dentro da política, e, como eu falei anteriormente, tanto no movimento, como nos grupos xenofóbicos, tem do outro lado, da parte ocidental, uma outra política, não xenofóbica, mas uma tendência de centro, quase direita, que seria o grupo no poder, atualmente, que é o CDU (Partido Cristão), de tendências neoliberais, e que tem uma política, não contra o imigrante, mas de estabelecer limites rígidos para a entrada deles, e até mesmo na Guerra, no Iraque, quando o Gerhard Shroeder foi contra o conflito, mas a Angela Merkel, do CDU, disse que ele estava errado e defendendo o apoio aos Estados Unidos, que sempre ajudaram os alemães, então, dá para ver um pouco dessa política.

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