sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Entrevista com Renato Aurélio dos Santos

Renato Aurélio dos Santos
Foto: Diego Wendhausen Passos

Data da entrevista: 28/07/2010

Diego: Depois de 45 anos separadas, as Alemanhas se juntaram em 1990, quase um ano após a queda do Muro de Berlim. Até que ponto a divisão política prejudicou os alemães?

Renato: A divisão política da Alemanha, é resultado da Conferência de Potsdam, em 1945, no fim da Segunda Guerra Mundial. Principal líder dos países do chamado eixo, foi responsabilizada pelo conflito, teve o seu território dividido, dentro de uma conjuntura política nova, que era a Guerra Fria. Então, a Conferência de Potsdam, como a Conferência de Teerã, têm um mundo que começa a surgir depois desde então, um mundo bipolarizado, o capitalismo, representado pelos Estados Unidos, e o socialismo, liderado pela União Soviética. Dentro desse contexto, a Alemanha é dividida. A cidade de Berlim, que ficava na parte oriental, também é dividida em zonas de ocupação, e, a divisão alemã, divide uma nação, enfraquece o país politicamente, militarmente, e a deixa refém da Guerra Fria, então, o fim dessa divisão ocorre justamente no período em que essa conjuntura vai terminando, que foi no final nos anos de 1980.

Diego: Consolidada como umas das principais potências políticas e econômicas da Europa e do mundo, a Alemanha passou por dois processos de unificação, um deles em 1871, e o mais recente, em 1990, quando vivíamos um período de grandes mudanças políticas, devido também a crise no sistema comunista e da antiga União Soviética. Quais foram os principais benefícios para os alemães, no aspecto geopolítico?

Renato: A Alemanha, a Ocidental, estava em um processo de integração com a Europa, desde os anos de 1950. Então, as velhas amarguras, rancores, ressentimentos que os alemães tinham com os franceses, por exemplo, foram superados, graças a liderança do Charles de Gaulle, pela França, e do Konrad Adenauser, da Alemanha Ocidental, em criar uma comunidade europeia de nações, a CECA, a Comunidade Europeia do Carvão e do Aço, e o Tratado de Roma, que criou o Mercado Comum Europeu, a chamada Europa dos Seis, foi o processo que deu então o início a essa integração, que cresceu mais ainda nos anos de 1980, com a criação da Comunidade Econômica Europeia, a Europa dos 12, juntando países da Península Ibérica, a Inglaterra, a Irlanda, enfim. Os germânicos, como o maior PIB (Produto Interno Bruto), passaram a liderar esse processo de unificação europeia, e, tentando superar os velhos rancores e ressentimentos. O sonho de reunificar o país, no caso de incorporar o lado oriental alemão à República Federal da Alemanha, era um sonho que todos os tedescos tinham, mas que era impossível no contexto da Guerra Fria. Durante a era Gorbatchev, com as políticas da União Soviética, a Glasnost e a Perestroika, esse sonho de reunificação parecia mais próximo, diferente dos anos de 1960, por exemplo. Com as mudanças, em alguns países da Europa Oriental, da chamada “cortina de ferro”, principalmente a Polônia, com o sindicato solidariedade, a Hungria e a Tchecoslováquia, que tiveram movimentos democráticos, em 1966, em território húngaro, e, em 1968, com os tchecos, também começaram a abalar o domínio da União Soviética sobre o leste europeu, e, a queda do Muro de Berlim, que foi o ponto alto do processo de desmoronamento desse modelo soviético, de socialismo autoritário, que foi implantado, e, quando a Alemanha foi reunificada, em 1990, por um lado fortaleceu o papel geopolítico germânico, mas por outro lado, trouxe problemas, porque o lado oriental estava defasado, economicamente. O novo governo, com a nação reunificada, de Helmut Kohl, que era do Partido Democrata Cristão, utilizou uma grande quantidade de recursos para investir no lado oriental, para deixá-lo em um patamar equivalente ao desenvolvimento da parte ocidental. Então, com a reunificação, nós tínhamos duas realidades na Alemanha, uma super desenvolvida, e outra, muito atrasada. Primeiro foi necessário os alemães investirem no lado leste, para dar-lhe uma infraestrutura, desenvolver-se, dentro de um contexto capitalista, e, por outro lado, depois de resolver esses problemas internos, que os alemães tiveram como começar a dar cartadas mais altas no cenário geopolítico mundial.

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