segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Torcedor Misto: uma discussão constante nos últimos tempos

Opinião dos torcedores

Muito comum em grande parte do país, o torcedor misto cria identidade por um time de sua região, além de acompanhar e apoiar determinada equipe dos principais centros do país, geralmente do eixo Rio-São Paulo. Do seu ponto de vista, como você analisa a questão do “torcedor misto”?

João Vicente Savaris dos Passos, estudante de Administração/UFSC e Edificações/CEFET-SC

"Sou contra, mas entendo, porque tenho muitos amigos que moram em São Paulo, mas que acabam adotando um time daqui, por exemplo. Mas o pessoal que nasce aqui, e torce para outro time, eu não gosto, deveria priorizar a sua região, ter prioridade de ir ao estádio. O torcedor dos times de São Paulo, apoiam os times de lá, não torcem por times daqui, são só eles, então, devem valorizar os times daqui."

Lizandro Macedo, profissional liberal e formado em Ciências Contábeis/UFSC

"Eu sou um deles. Sou um torcedor do Flamengo, nasci em Santa Catarina, em Lages, e me criei em Florianópolis. Tem o Avaí, o Figueirense, se bem que na época, quando eu comecei a torcer e gostar de futebol, ambos não tinham tradição a nível nacional. Hoje não, depois de alguns anos, de uns 10 anos para cá, eles têm alguma expressão, e, pode-se dizer, que a geração atual vai torcer mais para Avaí ou Figueirense, de uma equipe de seu estado, da sua região. Mas no meu caso, por exemplo, não. Eu fui para Floripa, e por algum motivo, por influência do meu tio, ele me fez gostar do Flamengo, um time lá do Rio. Às vezes o pessoal pergunta, por que um time do Rio, mas o time do Flamengo, e eu acho que outros times, mas o maior exemplo é o Flamengo, que não é um time regional, é nacional, está em todos os cantos, então isso pode acontecer. Sou um torcedor misto, independente disso, moro em Floripa, em outro lugar, enfim, estou torcendo pelo Flamengo."

Lúcio Luiz, formado em Jornalismo/Fuvest, Lages-SC

"Analiso com naturalidade. Acho que você não pode torcer para dois times que são rivais. Sou colorado. Não tem como eu torcer pelo Inter e pelo Grêmio, é realmente bem complicado, fica bem maria vai com as outras, então eu sou colorado e não torço pelo Grêmio. Esse negócio de dizer, ah, o Brasil está sendo representado. Posso até dar uma olhadinha, mas com certeza vou estar secando o adversário. Ser misto, eu acho que é uma coisa interessante, você estar torcendo para um time em nível local, e outro nacional, é completamente diferente, sou colorado, e tenho meu time de coração, que é o Inter, de Lages, que não deixa de ser Inter, então, sou duas vezes colorado, e eu considero que isso é natural, legal, assim como também muitos gremistas, flamenguistas, sãopaulinos, que torcem também para o nosso Inter de Lages, então isso acaba diversificando, mas ser maria vai com as outras não é legal, mas ter dois times de coração, existe, e eu sou prova disso, existe, gosto dos dois times que eu escolhi para torcer, e já tive a oportunidade, digamos assim, de mudar de time, e, mesmo com alegrias ou tristezas, temos motivos e razões para escolher ele."

Luiz Augusto Macedo, profissional liberal

"Torcedor misto, eu não entendo o que é isso. Eu, de alma, nasci, sou e sempre serei Flamengo. Eu sou Flamengo até morrer, e até depois de morrer. Isso não tem como mudar, até por que graças ao teu pai (Nilson Tadeu Passos, pai do titular deste blog), que também é um rubro negro, e eu sou, vou ser sempre. Aqui em Santa Catarina, eu torço pelo Figueirense, mas em um confronto Figueirense e Flamengo, eu sou Flamengo, então, essa coisa de torcedor misto, aí é vontade de cada um. Cada um faz o que quiser, e aí, claro, odiamos alguns times. Por exemplo, eu odeio o Vasco, o Avaí, o Corinthians, o Grêmio, o Internacional, o Palmeiras, o São Paulo, e cada um vai seguir a sua linha."

Mauro Pandolfi, jornalista formado pela UFSC

"É natural. Quantos meninos vemos, nas ruas, com camisas do Barcelona, do Milan, dos times ingleses, porque é a visibilidade. Atualmente, os campeonatos europeus são vistos como os brasileiros. É normal, onde tem os grandes jogadores, gerarem torcedores. O que gera o torcedor é um bom time, ou um bom jogador? As duas coisas. O torcedor, como você chama misto, tem a tendência de torcer para o time local e tende a uma equipe de mais visibilidade, uma importância maior. Foi muito vermos em Florianópolis, as pessoas torcerem pelos clubes cariocas, e depois, os gaúchos, pela migração deles, e, principalmente no caso dos clubes cariocas, não pode esquecer os meios de comunicação. Nos anos 40 e 50, as rádios cariocas invadiam todos os lares do Brasil. Eles tinham a penetração da Globo, a rádio nacional tinha o sinal da Globo. Então as pessoas escutavam os jogos de lá, criavam essa identidade. Quando eu era criança, em Lages, o que mais me chamava a atenção, era o telejornal, antes dos filmes, tinham sempre a imagem de jogos. Eu sou um torcedor misto, como você chama. Eu sou gaúcho, torço pelo Grêmio, e aqui, a minha torcida é o Figueirense, ainda continuo sendo mais gremista que torcedor do alvinegro, mas os meus filhos, já não têm mais a necessidade, já não torcem para times de fora, porque os times daqui já são times nacionalizados, eles se nacionalizaram. Os meus filhos torcem pelo Figueirense em primeiro lugar, não vem o Grêmio em primeiro lugar, então, essas coisas mudam. A partir do momento em que se tornam mais visíveis os clubes, tende a se unificar em um só clube, mas eu não vejo problema, é salutar. Eu era leitor e colecionador da placar. Eu tinha um time na Itália, um na Alemanha, um na Argentina, um no Pará, um em Santa Catarina, um no Rio Grande do Sul, um em Minas Gerais, um no Rio de Janeiro, um em São Paulo, e isso era normal. Isso é normal para uma criança que está começando a descobrir o futebol. Hoje é mais fácil ainda pela massificação do futebol na televisão. Todo dia você vê futebol, todo dia você se encanta por uma camisa, por um clube, um jogador, é muito normal isso, eu acho até salutar isso."

"Essa coisa de ter um torcedor, que você chama de misto, é um processo de globalização em que o mundo está ao seu lado. Barcelona, Manchester, nem Londres ficam longe daqui. Então, tudo está próximo a você, tudo está visto. Quando eu era criança, o que é que eu via? Eu via o Internacional, de Lages, enfrentando os times das outras cidades. Depois que eu vim para cá, eu vi alguns times de fora, vindo jogar aqui. Hoje não. Você liga a televisão, você está em todos os lugares. Você começa a se globalizar, a ter uma visão mais ampla, o mundo não é mais longe, é perto. Quando o mundo é perto, você tem a tendência de gostar de várias coisas, de outros lugares, ao mesmo tempo. O futebol é isso, apesar de eu achar que o futebol é a última identidade que sobra. Os clubes locais, a tendência do torcedor mais fanatizado, de clube local é se tornar um torcedor mais agressivo, porque é a última identidade que serve para ele. Quando ele age em grupo, age com uma certa violência. Você percebe isso na internet, nos blogs, quando os torcedores de Avaí e Figueirense, quando um cutuca o outro, às vezes tem uma provocações mais exacerbadas, algumas análises exacerbadas. Isso é um protótipo de sociedades que tem, não provincianismos, sem amplitude. Hoje o mundo é mais amplo, e quando é mais amplo, tem maiores possibilidades de torcer para outras coisas, a visibilidade é maior. Quando você é mais restrito, você se fecha, torna-se mais fanático e mais agressivo, então, esse é o risco do torcedor local, de perder a brincadeira, e a rivalidade se torna mais agressiva, esse é o risco do torcedor local."

Nilson Tadeu Passos, empresário, formado em Engenharia Elétrica/UFSC

"O torcedor misto veio a existir quando os times, na sua região, no seu estado, começam a se destacar. Se Santa Catarina, hoje, não tivesse dois times na primeira divisão, provavelmente as pessoas torceriam por clubes de fora, e em segundo plano, pelo clube da sua cidade, do seu estado. Eu acho válido isso, quando as pessoas deveriam torcer pelo time da sua cidade, independente dos outros. Isso fortalece a equipe local. Sou favorável. Não é o meu caso. Eu moro em uma cidade que eu adotei. Agora eu estou vendo meu sonho realizado, vendo os dois times da cidade onde adotei, na primeira divisão. Torcerei por eles, para o sucesso deles. O dia que o meu time, da minha cidade estiver nessa posição, provavelmente ele será meu primeiro clube. Hoje torço para um time de fora, do Rio de Janeiro, o Flamengo, o meu primeiro clube, e espero que no futuro, o time de onde eu nasci, o primeiro que eu torci, venha a se destacar, aí eu torço para ele também."

Silvio Carlos Breda Junior (Kuky), estudante de História/UFSC

"Torcedor misto pode até ser legal, mas tem aquele negócio, no caso do Avaí e do Figueirense. É muito difícil você ver um avaiano torcer para o Figueirense, mesmo sendo contra um time de fora. A mesma coisa o inverso, mas é legal ter, por exemplo, nós aqui em Santa Catarina, vem a ser legal ter mais de um representante na primeira divisão, dois três, quanto mais, melhor, é mais investimento para o próprio estado. Aí assim, torcer para um time de fora, eu acho que seria legal mais em uma questão internacional. O Internacional, no campeonato mundial, eu vi muito apoio de sãopaulino, cruzeirense, por estar representando o Brasil no exterior. Dentro do futebol nacional, até fica estranho você torcer para um time que não é o seu, só se for para beneficiá-lo, aí você torce. Tem aquele negócio, o torcedor seca aquele time que perdendo, ajuda o nosso, mas é basicamente isso. A não ser que você simpatize com um clube, seja o Cruzeiro, por exemplo, ou por outro time. Não vejo por que não torcer para ele, mas também não quanto meu time principal."

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