terça-feira, 13 de setembro de 2011

Entrevista com Cesar Jungblut

Cesar Jungblut
Foto: Diego Wendhausen Passos

Data da entrevista: 26/07/2011

Cesar Jungblut é historiador graduado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Professor universitário, atualmente, ministra aulas como tutor das unidades da instituição Uniasselvi, em Santa Catarina.

Diego: Após os ataques terroristas contra o World Trade Center e o Pentágono, em 11 de setembro de 2001, os Estados Unidos iniciaram uma guerra contra o terror, enviando tropas ao Afeganistão, onde está situada a Al-Kaeda, liderada por Osama Bin Laden, acusado pelos atentados em território ianque. No seu ponto de vista, como uma nação promove um conflito armado, dizendo defender uma campanha antiterrorista?

Cesar: Nós temos que analisar esta questão por diversos ângulos. Talvez a primeira questão, que nos faz refletir isso, é a lembrança, a efemérides dos 10 anos desse atentado. Daqui a alguns meses, vai se falar nesta questão. Mas a questão do terrorismo, ele é algo que não nasceu com o atentado de 11 de setembro, nos Estados Unidos, mas já vem sendo construído, simbolicamente, no imaginário do mundo desde a Guerra Fria. Quer dizer, os Estados Unidos, que passaram a ser a primeira potência mundial após a Segunda Guerra, em um embate de algumas décadas, que ficou muito mais no campo ideológico, com a antiga União Soviética. Sempre teve um inimigo a ser combatido. Em 2001, quem era esse inimigo? E quem passou a ser o inimigo público número um dos norte-americanos, foram os árabes, os muçulmanos, quem se contrapõe ao apoio que o estadounidense sempre deu aos israelenses, contra os palestinos, na questão do Oriente Médio. Mas é uma questão ainda, apesar da morte do principal líder desses terroristas, simbolicamente, e temos que frisar isso também, não fez também que o ódio contra o ocidente, e mais especificamente contra os Estados Unidos diminuísse, não entre todos os árabes, mas entre os árabes, que vamos dizer entre os mais radicais e engajados politicamente. Mas temos que ver que o mundo sempre teve conflitos, há séculos, sempre foi um lugar onde as grandes potências e os impérios se enfrentaram, e é uma luta ideológica, uma luta cultural, onde sempre há aquele que combate e aquele a ser combatido. É claro que o terrorismo, de forma alguma, seja aquele de muçulmano, cristão, de esquerda, de direita, ele nunca é algo a ser aplaudido, porque ceifa vidas, causa danos a humanidade, então, por isso devemos aproveitar esta data que está chegando, para realmente discutir como e em que situação se encontra o mundo hoje, a economia, o trabalho, a educação, no mundo todo, e aproveitar essa década que está presente, para não apenas para saber quem é culpado, quem tem razão, mas para refletir sobre a nossa atual conjuntura mundial.

Diego: No plano histórico, os Estados Unidos, na condição de principal economia mundial, passam a imagem de nação evoluída, próspera, enquanto os países orientais, em especial do Oriente Médio, são vistos como primitivos, violentos e atrasados perante ao mundo capitalista. Até que ponto os principais veículos de imprensa exercem influência nesse ponto de vista?

Cesar: Ela é uma questão histórica também, que acontece há séculos. Se buscarmos, e até não precisamos ir muito longe, mas na época dos “descobrimentos”, da colonização da América, da colonização africana, do imperialismo, dos séculos XVIII e XIX, como o neocolonilismo, que foi feito depois, sempre o ocidente, no caso a Europa, e depois a América do Norte, colocaram-se como superiores às outras culturas, aos outros povos, e os norte-americanos, até hoje, não só eles, outras potências mundiais também, exercem e fazem essa discrição sobre os brancos, os católicos, os cristãos, os ocidentais, entre quem fala uma língua inglesa, e aqueles que se vestem diferente, que têm religiões distintas, e que pensam diferente e que agem de outra forma, e se colocando, no caso os ocidentais, liderados pelos Estados Unidos, como superiores a esses povos e essas culturas. Isso é uma forma desses povos apresentarem contraponto a esse domínio, que não é só um domínio econômico, político, ideológico e cultural, no qual a grande mídia, e você sabe muito bem, pois você é jornalista, é ocupada por poucas empresas, agências, e o que chega para o grande público, e isso não é só para o Brasil, é para o mundo todo, são as informações que as grandes potências, nesse caso os Estados Unidos querem que chegue. Para você ter mais informação, você precisará acessar outras fontes, para ver o outro lado da questão. Vai ter que acessar outras leituras, blogs, sites alternativos, o que a maioria da população não tem acesso e não tem esclarecimento para isso. Com isso a grande mídia coloca o Estados Unidos como o mocinho e os inimigos como os vilões da história.

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