segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Entrevistas com Moacir Pereira e César Valente

Um relato da visão dos jornalistas Moacir Pereira e César Valente sobre a Novembrada

Moacir Pereira
Foto: Diego Wendhausen Passos


Data da entrevista: 19/05/2009

Diego: Moacir Pereira, qual foi o contexto político, a situação política da época?

Moacir: Nós vivíamos, em 1979, o início do processo de abertura, durante o governo do general João Baptista Figueiredo, mas com muitas contestações no próprio interior do regime, para que a abertura não acontecesse, a redemocratização fosse estancada e os militares voltassem a perdurar novamente e ficasse mais autoritário ainda. Dentro do próprio regime, os militares não tinham uma posição de consenso, e a reação do presidente Figueiredo com o episódio aqui na Novembrada, ela foi um marco na história política de Santa Catarina e no Brasil, porque até aquele episódio prevalecia a política populista de comunicação do então ministro Said Farah. O Figueiredo em cada esquina que ele ia numa cidade, ia numa esquina tomar um cafezinho, usava o óculos mais bonito, mais moderno. Enfim, havia toda uma política de tornarem ele uma figura mais popular, não do general ditador da América Latina. E aquela reação inesperada dele aqui acabou resultando na prisão dos estudantes, a população se solidarizou. Cometeram uma série de equívocos, fizeram uma placa para homenagear o Floriano Peixoto, imaginando que Santa Catarina tinha o prazer, honra de ter uma cidade de Floriano, quando na verdade detestamos. Nós temos assim marcas, cicatrizes muito profundas a respeito da Revolução Federalista, do coronel Moreira César, que a mando de Floriano esteve aqui e matou 189 catarinenses, aqui na ilha. Enfim, uma série de medidas tomadas pelo governo federal antipáticas e impopulares acabaram resultando nessa revolta popular, que foi a Novembrada de 1979.


César Valente
Foto: Diego Wendhausen Passos

Data da entrevista: 19/05/2009

Diego: César Valente, qual a sua análise sobre a novembrada?

César: Acho que foi um momento importante naquele período histórico. Eu me lembro que depois de um ano, ao estar andando de táxi, em São Paulo, o motorista, pelo sotaque, percebeu que eu era do sul. “Ah, mas vocês é que são legais. Vocês é que deram uma piaba no Figueiredo”, disse o taxista. Engraçado que isso se espalhou pelo Brasil como uma demonstração de rigor do catarinense, do florianopolitano, diante de um governo que já estava caindo de maduro. Então, foi um acidente, porque era uma coisa que não estava planejada, e aconteceu por acaso, mas teve uma repercussão política importante em nível regional e nacional, e, de fato para cidade acabou sendo um marco. A cidade disse ao governo militar que não queria mais. Não foi uma coisa planejada, mas acabou tendo um reflexo histórico importante.

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