sábado, 20 de outubro de 2012

Guerra do Contestado (1912-1916)


Entrevista com Celso Martins


Celso Martins
Foto: Diego Wendhausen Passos

Celso Martins é jornalista e historiador, trabalhando atualmente no site Daqui na Rede

Data da entrevista: 08/08/2012

Diego: Habitantes da região há décadas, muitos dos moradores perderam as terras que ocupavam para a empresa que ficou responsável pela construção da estrada de ferro. Como se deu esse processo?

Celso: Não foi apenas a estrada de ferro que despejou os caboclos. Quando as terras começaram a ganhar valor para a colonização, a extração de madeira, começou o processo de expulsão dos caboclos das terras. Ela, até então, tinha valor de uso, os caboclos usavam, ficavam um tempo e migravam para outra. Quando ganha valor de mercado, é que se dá o conflito, o rompimento social que havia ali, rompendo o equilíbrio social que havia no sertão. Não foi apenas a ferrovia. Foi um ingrediente, porque houve o combate do Irani sem a presença da estrada de ferro, e sim por causa do problema da posse da terra.

Diego: Área disputada pelos estados do Paraná e de Santa Catarina desde o início da república, devido a exploração das riquezas da região, sendo o local de funcionamento da estrada de ferro, gerando os conflitos e lutas políticas e sociais. O que gerou esse conflito?

Celso: Foi exatamente o que fermentou a tensão, levando a ruptura, da ordem institucional, do próprio levante dos sertanejos, foi exatamente a posse da terra, a questão da terra. Eles foram preteridos em função de um processo “civilizador” da república, que em um primeiro momento passou as terras da união para a mão dos estados, isso já na proclamação da república, ou seja, na mão dos governos republicanos como moeda de negociação, de manutenção do poder político e de barganhas, e sem considerar a presença dessas populações, que não estavam no projeto republicano.

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