quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Guerra do Contestado (1912-1916)


Entrevista com Esperidião Amin



Esperidião Amin
Foto: Diego Wendhausen Passos

Data da entrevista: 03/08/2012

Esperidião Amin é professor da Universidade Federal de Santa Catarina, ex-governador, e atualmente é Deputado Federal por Santa Catarina

Diego: A religiosidade foi um ponto que caracterizou a região do meio-oeste catarinense, onde inúmeras pessoas perderam as concessões do território para a empresa responsável pela construção da estrada de ferro ligando São Paulo ao Rio Grande do Sul. Como os habitantes reagiram à perda das terras?

Amin: Você imagine isso, começo do século XX, é lógico que não existia a escritura da propriedade. Tinham posseiros, saldo de várias migrações, Revolução Federalista, das reduções jesuíticas, ou seja, evadidos, para não dizer foragidos de vários conflitos do Brasil meridional, do sul da América do Sul. Essas pessoas estavam lá trabalhando, sobrevivendo, subsistindo, quando chegou o progresso, sob a forma, antes do trem, dos trilhos, a exploração da grande reserva de araucária. Era o pagamento do império e da união, porque a negociação foi feita no período imperial, e o pioneiro dessa parceria público privada, o Percival Fraquhar, e eles reagiram fugindo, juntando-se, e reagiram, resistindo. É uma história muito complexa, que mistura natureza, ecologia, movimento social, capitalismo, resistência pessoal, redes sociais, na época, e, qual era o amálgama, o catalisador para esse povo, o é que a religiosidade? Em todos os lugares do mundo, os oprimidos se apegam a alguém, a algo maior que eles. Nisso, a religiosidade e suas várias manifestações, que por serem estranhas a nós, passam a ser confundidas com fanatismo, mitologia, nomes que são atribuídos a religiosidade do povo do contestado.

Diego: Além das questões religiosas e sociais, acontecimentos políticos acirraram ainda mais o conflito na região, disputada entre Paraná e Santa Catarina, uma das guerras mais longas da história do Brasil. Quais foram as principais causas do conflito?

Amin: Dinheiro. Do pinheiro, da erva mate. A região era rica para o extrativismo, e que ainda hoje se pratica no Brasil. O que ficou lá? O IDH mais baixo do estado. Assim como no país, que exporta ferro, ainda hoje, já exportou ouro, pau-brasil e outras riquezas. Nas regiões onde se extrai recursos naturais, o que fica? Pobreza e natureza degradada. Vai até a bacia carbonífera. Ou seja, a história se repete, e apenas passou pelo contestado.

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