quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Entrevista com Edson Luis Macari

Edson Luis Macari
Foto: Diego Wendhausen Passos

Data da entrevista: 15/07/2010

Diego: Depois de muitas conversas com PT, DEM e PSDB, os peemedebistas vão ficar ao lado dos democratas, contrariando a decisão de muitos integrantes. Como saiu a aliança com os democratas?

Macari: Na verdade, é uma demonstração clara de que os partidos, em geral, e de uma forma quase que universal, são capitanias e têm donos, como é o caso aqui de Santa Catarina. A solução encontrada para este pleito atendeu especialmente e particularmente a uma situação que interessava a um dos grandes mandatários da sigla. Resolvido o impasse com relação ao projeto pessoal, o que sobrou do PMDB, como unidade política e histórica, restou acompanhar essa decisão, sem entrar nas questões ideológicas e na própria história do partido, porque, na verdade, essa aliança que governou o estado nos últimos oito anos, foi também resultado de um grande trabalho político, de base, em que o MDB, agora PMDB contribuiu, e muito, para modificar o panorama da gestão política do estado. O que prevalecia era o comando semi-oligárquico, ou oligárquico, com base em duas ou três famílias, donatárias das decisões políticas, e, com isso, hoje, evidentemente houve uma pulverização, o cenário é diferente, mas para os militantes históricos do PMDB, há um gosto de passado requintado com tudo isso, e, certamente, a par da capacidade de articulação, imensurável, de alguns desses grandes líderes das agremiações agora aliadas, o fato é que boa parte da militância vai tomar uma decisão de última hora, de último momento, e, certamente vai dificultar muito o trânsito da decisão dessas eleições, sendo o PMDB um eventual fiel nesta balança. Na minha percepção, e aqui é uma opinião pessoal, essa aliança, e a forma como ela foi conduzida, especialmente nesses últimos seis meses, ou último ano, e com os acontecimentos todos, conseguiram empanar essa decisão, conseguiram trazer problemas para essa decisão, na verdade, eles conseguiram, com isso, facilitar muito a campanha eleitoral dos adversários. Eu não me surpreenderia, se essa eleição fosse decidida no primeiro turno, e com vitória de outra agremiação, que não a dessa aliança.

Diego: Na esfera nacional, os desentendimentos internos, levando inclusive alguns integrantes da sigla a declarar voto para candidaturas adversárias, causou mal-estar dentro da agremiação peemedebista. Como as lideranças partidárias tentarão contornar esses problemas?

Macari: Novamente vem a cena, a questão do domínio das siglas partidárias, por verdadeiros donatários, mas o fato que é incontestável, é que a base e militância, do PMDB, historicamente, sempre foi de rebeldia, contra decisões de âmbito nacional, em que a questão da história do partido, do ideário partidário, se não fosse considerado, sempre se rebelou. Não é, por acaso, que em Santa Catarina, ocorreu uma das maiores contestações no cenário político, na Ditadura Militar. Já houveram embates nacionais, com relação a indecisões internas do partido, de alianças, de apoio ou não, e o fato incontroverso, é que um partido, do porte do PMDB, alijado há várias eleições da campanha majoritária para presidência, passa a ser um fiel de balança, vai se jogar para quem tiver a melhor proposta de apoio e de acordos, e não seria diferente aqui em Santa Catarina, mas, o que pode surpreender, é que a par da costumeira decapitação de novas lideranças, eventualmente surgem outras, e quem sabe, pode-se ressurgir, ou surgir, desse enfrentamento que se aproxima, um novo PMDB, e aqui, também de forma pessoal, eu penso que nós seremos surpreendidos pela dinâmica dos que hoje são nossos opositores, na formatação de alianças paralelas, e tal, sem deixar também, de poder considerar o efeito da popularidade do atual presidente da república, que certamente vai influenciar, e muito, alguns episódios de aliança a nível nacional e regional, mas, Santa Catarina costuma, eventualmente, apresentar uma forma de contestação muito própria, e talvez seja essa a única surpresa que se espera da próxima eleição no estado.

Diego: Durante o período pré-eleitoral, os peemedebistas vetaram qualquer tipo de aliança com o PP, principal adversário da sigla no plano estadual. Por que a sigla não busca diálogo com os progressistas visando acordos de parceria?

Macari: Só um fator pode explicar essa resistência, que é a própria história, e o passado político das duas agremiações e dos seus componentes. O que o PMDB do passado questionava, era da condução personalíssima, da sigla hoje progressista, por este ou daquele representante, mas o fato, é que isso hoje deixa de ser também um fator a ser muito considerado, porque coerência não é hoje um princípio predominante nessas alianças, e, se o passado já foi importante para a gente se orientar para um futuro, o fato é que hoje precisamos construir uma nova gestão política, lembrando que, a par do atraso sistemático que Santa Catarina apresentou ao longo dos anos, em termos de estadistas, que realmente conseguisse alavancar o estado, com um lugar neste pódio, que ele tanto merecia, nós temos hoje, fatos verdadeiramente gritantes com relação à infraestrura, só para falar no aeroporto. Não é por acaso que Santa Catarina foi excluída de eventos esportivos internacionais, por absoluta incapaidade física de acolher essa grande movimentação, por falta de estrutura. Alguma coisa foi feita nesse sentido, mas não mudou a questão do atraso, e lembrando, que Santa Catarina tem uma belíssima inserção no ponto de vista educativo, como os últimos indicadores assim descortinaram, ao mesmo tempo, convive com o atraso sistemático, falando, por exemplo, com relação ao saneamento básico. Segundo alguns informes, o estado ocuparia a penúltima posição em termos de sistemas de coleta e tratamento e destinação de esgoto no país, e isso contrasta com essa ideia progressista, que tem um dos melhores índices na questão da educação básica. Precisa sim uma nova liderança, e que saiba tornar esses desafios, apresentar propostas dinamizadoras, e possa soterrar, no passado, o que de mau foi feito até hoje, e, quiçá, o catarinense saiba fazer a melhor escolha e que tenhamos melhor sorte.

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